HUNTING GROUNDS: LAS VEGAS

SEJAM BEM VINDOS AO NOSSO TERRITÓRIO, A CIDADE DO PECADO, LAS VEGAS!

LOBISOMEM: OS DESTITUÍDOS

O LOBO DEVE CAÇAR... TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA COMEÇAR SUA CAMPANHA.

CAPITULO 1: ANSWERS AND CHOICES

ACOMPANHE A TRAGETÓRIA DE ORIGEM DE UMA DAS MAIORES ALCATEIAS DE VEGAS.

PRÓLOGO: ONCE UPON A TIME IN NEW MEXICO!

O PASSADO, O LADO HUMANO, A VIDA ANTES DA PRIMEIRA TRANSFORMAÇÃO!

THE STORMRIDERS: OS CAVALEIROS DA TEMPESTADE

STEVE, KLAUS, RAY, MIKE, CARMEM, PHANTOM, CONHEÇA OS INTEGRANTES DE NOSSA ALCATÉIA.

22.11.07

Prólogo - Parte 09

Once Upon a Time in New Mexico 09/10




Steve apenas subiu a sua guarda cruzando os braços sobre a face e fechou os olhos quando sentiu a patada da fera vindo em sua direção. A força do golpe foi tão intensa, que o fez atravessar o salão e espatifar-se contra a parede de madeira rústica próxima a entrada que quase cedeu. Acima dele, os vidros da velha janela não resistiram ao impacto e se partiram em pedaços afiadíssimos, que caíram sobre ele como uma chuva de verão, castigando ainda mais o seu corpo.
Sua massa muscular estava quase ao normal, os tufos de pelo negros caiam ao chão. Sua pele formigava e seus braços latejavam intensamente de dor. O cansasso definitivamente parecia o estar vencendo e tudo o que ele mais queria naquele exato momento era fechar os olhos por alguns instantes para se recompor. Ali caido, debaixo da janela escancarada, envolto aos cacos manchados com seu sangue, sob a luz da lua minguante, ele observou seu fim se aproximando cada vez mais rápido no forma mais bestial que a morte poderia assumir...

Mas ao invés de um coro de anjos o recebendo no além vida, naquele momento crucial, ele ouviu uma violenta rajada de tiros vindos do vão que um dia foi a janela sobre sua cabeça. Sem acreditar naquele golpe de sorte do destino, Steve apenas observou o monstruoso Klaus estremecer e recuar com a saraivada de balas que massacravam seu peito. O barulho ensurdecedor da cadencia das balas, unida ao uivo agonizante do nórdico transmutado, eram
capazes de corromper a sanidade de uma pessoa menos crédula nos mistérios que margeiam nossa vã consciência. Como um choque aquilo o despertou e aproveitando-se da incrível oportunidade, o sul americano reuniu todas as forças que lhe restavam e começou a se arrastar o mais rápido que pode para longe do fogo cruzado e do raio de visão da fera, que enfim, curvava-se e dava os primeiros sinais de que iria tombar...

Klaus estava completamente ensangüentado, sua massa corpórea diminuía de forma acelerada, mas antes que Steve pudesse vê-lo cair de uma vez por todas, o que parecia ser uma bomba de fumaça estilhaçou os vidros da janela a sua direita. Por instinto ele virou-se para correr para o outro lado, mas outras duas passaram pelo vão. Ao explodirem, ele tentou cobrir o rosto com as mãos, mas não demorou para que a sensação de ardência queimasse sua laringe e fizesse com que seus olhos começassem a lacrimejar. Coberto por suor e sangue,
o efeito urticante do gás propagou-se ainda mais rapidamente em sua pele. E acredite ou não, esses ainda eram os menores de seus problemas naquele momento...

Com Klaus efetivamente derrotado, inconsciente e ao seu entender morto na forma humana, Steve enfim teve mais do que alguns segundos para poder racionalizar a situação atual e traçar o seu destino a partir de então. Pela ação organizada e prudente que acontecia, provavelmente a policia estava la fora preparada para o que "desse e viesse". O que o fez pensar que ao entrarem por aquela porta e vissem aquela cena clássica de filmes de terror adolescente, repleta de destruição, sangue, com direito a mortos, feridos e sobreviventes se contradizendo, com apenas ele
(um imigrante latino lavado em sangue de um cadáver em potencial) consciente...

D
e "salvo pelo gongo" ele passaria a: "completamente fudido e condenado a cadeira elétrica por massacre", após alegar veementemente diante de um júri popular, que ele havia se transformado num "monstro hollywodiano" de quase três metros de altura apenas em "legitima defesa", e que na verdade, havia sido o "outro lobisomem" o autor de todo aquele estrago. Realmente seria uma historia "bem" interessante de se ouvir e por que não dizer; "inovadora" de se afirmar sob juramento. Dava até para imaginar as transmissões ao vivo em todo mundo, seguidas de documentários sobre sua vida e depois de alguns anos, um filme com elenco "b" estreando nos cinemas a "versão sem cortes da verdade que não foi contada"

Ele tinha de qualquer forma que dar um jeito de sair
dali ...

Ciente disso, Steve prendeu a respiração e seguiu em direção a saída lateral, mas ao se aproximar, ouviu
de relance os comandos do que parecia ser o líder da ação de contenção do local e os passos de pelo menos um de seus subordinados o seguindo. Então de forma furtiva, ele seguiu para a porta dos fundos, e quando estava a metros da liberdade, notou um importante detalhe; que agora de volta a sua forma humana suas roupas haviam se desfeito em trapos e ele se encontrava completamente nú. Como um estrangeiro sem roupas, no meio do deserto, próximo ao local de um incidente de grandes proporções não é lá uma coisa muito discreta, ele recuperou o fôlego numa brecha de ar próxima a porta e de forma silenciosa, agachado-se para não ser notado, seguiu tenso na direção em que lembrava estar o corpo inconsciente do rapaz careca que ele havia derrubado a pouco. Tateando freneticamente o chão ele o encontrou e sem pensar duas vezes roubou-lhe as calças...

Enquanto rapidamente as vestia, embora o efeito do gás prejudicasse sua visão e olfato, de modo geral, ele percebeu que progressivamente seu corpo reagia e aos poucos o seu vigor natural ia voltando ao normal. A dor em suas costas causada pelo impacto havia diminuindo significativamente e já não mais o debilitava, seus músculos estavam novamente correspondendo como se estivessem descansados e foi só então que ele percebeu abismado os ferimentos profundos em seu peito se fechando e cicatrizando lentamente. Ele com certeza se estareceu, mas em meio a todos esses acontecimentos estranhos que estavam ocorrendo recentemente em sua vida, a primeira coisa que realmente veio a sua cabeça era; que nem tudo poderia estar perdido e Klaus pudesse estar vivo. Afinal, ambos aparentemente
tinham as mesmas habilidades e o que quer que estivesse acontecendo com ele, o nórdico poderia ter mais respostas. Talvez ele soubesse como ou o porque dele estar passando por tudo aquilo ou quem sabe, se haveria alguma forma de controlar ou até mesmo se livrar daquela maldição...

Ele teve segundos para decidir o que fazer em seu plano desesperado de fuga e
o medo de não mais poder fazer ao escandinavo as perguntas cuja as respostas tanto o atormentavam, o fizeram agir pelo impulso. Steve correu e ainda pensando em se arrepender por aquilo, pegou a espingarda caída atrás do balcão e em seguida colocou Ollendorf em suas costas. Apartir dali ele já não sabia qual das situações era a pior; a de fugir aos tiros da policia local ou ter que carregar um homem de mais de cento e vinte quilos completamente nú em seus ombros...


Nota do Autor: Muitas pessoas me perguntaram durante as semanas que separavam os posts 8 e 9, porque Steve voltou a forma humana no meio do combate e Klaus não? A resposta é simples. O instinto de auto preservação de Steve o fez mudar para a forma Gauru, a qual o uratha entra numa espécie de frenesi mais controlado, nela ele precisa atacar algo ou alguém todas as rodadas ou no mínimo se mover na direção de um alvo visível. Manter essa forma exige muito esforço e o número de turnos por cena nessa forma é determinado pela soma do vigor básico com o instinto primitivo do personagem. Passado esse período, ele volta a forma natural ou ainda pode tentar fazer um teste para ir para alguma das outras três formas intermediárias. Já Klaus além de estar na forma híbrida como Steve, ele estava possuído pelo que chamamos na primeira língua de Kuruth...

Death Rage, Fúria de Morte, Fúria Mortal ou Kuruth, independente de como é chamado esse é o estado mais selvagem que um lobisomem pode alcançar. Nele são ignorados perigos mortais, em prol de nada além do que a satisfação de rasgar sua presa com suas garras e dentes. O uratha nesse estado assume imediatamente a forma gauru e permanece nela com direito a todos os seus benefícios até que a fúria cesse ou seja interrompida. Nela o lobisomem é compelido a destruir todos os alvos dentro de seu raio de visão, sejam aliados, inimigos ou infortunados transeuntes que estiverem na cena...

Para os uratha, a palavra Death Rage tem muitos significados, o lembrete da morte do Pai Lobo é um deles. Mas, o verdadeiro significado dela é que sucumbir ao Kuruth é uma perda da consciência semelhante à morte, onde o uratha corteja a possibilidade de morrer como uma fera enlouquecida ao invés de um guerreiro ou caçador. Por isso cada Fúria Mortal de um lobisomem pode ser sua última.

Os seguintes estímulos disparam o estado de Kuruth durante um combate:

- Sofrer dano agravado.
- Acertar ou ser atingido por um sucesso decisivo (5 sucessos num ataque).
- Sofrer dano em um dos últimos três pontos de Health.

Mas o real horror do Kuruth é que ele pode surgir mesmo fora de situações de vida-ou-morte. Por exemplo, uma Uratha pode ser tomada pela Fúria-morte ao descobrir que seu namorado estava lhe traindo, somente para recuperar os sentidos coberta em seu sangue e vísceras. A lista seguinte detalha potenciais estímulos que podem sujeitar um lobisomem ao Kuruth quando não estiver em combate. O jogador deve fazer um teste para resistir quando receber uma provocação equivalente ao seu valor de Harmonia ou maior:

- 9 a 10 Pessoa amada/membro da matilha morto ou ferido gravemente; traído por pessoa amada/membro da matilha.
- 7 e 8 Traído por aliado
- 5 e 6 Ferido fora de combate com dano agravado; pessoa amada/membro da matilha em perigo
- 3 e 4 Humilhado ou ferido
-1 e 2 Insultado; autoridade desafiada

Sistema: O jogador deve rolar Resolve+Composture para evitar entrar em Kuruth a cada provocação recebida, seja em situação social ou de combate. A falha faz o lobisomem assumir automaticamente a forma gauru. O limite usual de rodadas para esta forma é ignorado. Dura até o fim da cena (sendo abatido ou abatendo a todos rs!). Qualquer uso de dons, disciplinas de vampiros ou magia de magos afim de influenciar o alvo do kuruth sofrem uma penalidade de -3 nas jogadas de dado.

21.11.07

Prólogo - Parte 08

Once Upon a Time in New Mexico 08/10




O uivo gutural da criatura gigantesca de pelos dourados ecoou pelo recinto e fez as paredes estremecerem, assim como a carne e os ossos de seu algoz... Completamente perplexo, o jovem de cabelos loiros na altura dos ombros permanecia estático, tentando a todo custo racionalizar aquilo que estava diante de seus olhos... Mas uma nuvem de inconformidade e negação o cercava tentando manter sua sanidade – Isso só pode ser um pesadelo – pensava repetitivamente desejando acordar de qualquer forma em algum lugar seguro...

Mais para a sua infelicidade aquilo tudo era real...

Mesmo que ambos estivessem em condições iguais nesse combate, muito provavelmente ele não levaria vantagem contra o norueguês de mais de dois metros de altura e cerca de cento e vinte quilos... Klaus estava praticamente inconsciente quando foi covardemente atacado. Seria praticamente suicídio para o jovem enfrentar o escandinavo em um mano a mano. O que dirá então, fazer frente a ele naquela situação? Em uma forma monstruosa, com quase o dobro de seu tamanho, o triplo de sua massa muscular, em um estado de irracionalidade e completo descontrole?

Antes mesmo que o pobre coitado respondesse ao instinto de virar-se e correr, as enormes garras da criatura já deslizavam sobre seu peito, rasgando sua pele, víceras e partindo os seus ossos. Ele cogitou gritar de dor ou desespero, mas antes que qualquer som fosse emitido, os fortes e afiados dentes da enorme criatura já estavam cravados por toda extensão de seu pescoço e com um só movimento sua cabeça já havia sido decapitada...

As ultimas imagens gravadas em sua retina, foram o mundo girando por alguns momentos após o impacto com solo ate por fim parar poéticamente em uma posição inclinada, mas privilegiada, de onde ele pode observar o resto de seu corpo ser completamente destruído pela enorme criatura...

.....

Enquanto isso, Steve já havia neutralizado um jovem armado, mas agora tinha sobre si a atenção de dois de seus amigos. O jovem em uma forma com traços humanos, mas com muito mais músculos e pelos do que o normal, estudou rapidamente seus oponentes enquanto caminhavam em sua direção. O maior deles, o ruivo com a cadeira na mão. Caminhava despreocupado, sorridente, completamente confiante, como se estivesse caminhando em direção ao mar em um dia ensolarado. Steve observou também os movimentos do outro, o careca que segurava um pedaço considerável de madeira que outrora fora um taco de bilhar, eles eram lentos e atrapalhados, além de que embora suas feições não demonstrassem, ele estava impregnado com um inconfundível aroma de hesitação e medo...

Então ao contrario das expectativas de ambos, Steve lançou-se logo sobre o maior deles e antes que este pudesse reagir, suas garras enterraram-se na parte superior do rosto do brutamontes, arrancando aquele sorriso imbecil e parte do seu supercílio em uma fração de segundos. Imediatamente o grandalhão largou a cadeira e levou as mãos em direção aos olhos, onde rapidamente o sangue impregnava sua vista. De forma veloz Steve aproveitou-se da situação e acertou-o novamente com um forte gancho de direita, deixando-o completamente atordoado. A luta parecia que iria ter um desfecho tão simples quanto a primeira, mais havia mais um. O latino mais sentiu do que viu o pedaço de madeira partir-se em suas costas e mesmo assim por pouco ele não conseguiu desviar de seu trajeto. Apenas um ranger de dentes para conter um grito precedeu a retaliação.

Steve virou-se emendando um forte soco cruzado que fez o rapaz cuspir um de seus incisivos. Furioso ele continuou a massacrar o rosto de seu algoz até ele perder a consciência, mas antes que pudesse desferir o golpe derradeiro, algo lacerou profundamente seu ombro. Um urro de dor explodiu de seus lábios, imediatamente sua cabeça começou a girar e sua visão enevoou devido à fúria. Ele precisou de toda sua força de vontade para não perder o controle antes de virar-se para poder encarar seu novo adversário. Ele era imenso, monstruoso, um verdadeiro demônio sob a pele de um lobo de pelos dourados manchados de sangue. Ele tinha exatamente a forma que aterrorizava seus pensamentos desde que perdeu o controle e se transformou pela primeira vez há alguns dias atrás. Desde o dia em que começou a ser perseguido... Seja lá o que for que tinha acontecido com ele naquela noite, evidentemente também havia acabado de acontecer com o rapaz que cantava no palco do barstow.

Mal houve tempo para ele poder organizar seus pensamentos antes que a criatura bestial saltasse sobre ele; babando, com a enorme mandíbula escancarada, ainda com pedaços de carne e sangue entre os dentes. Seus olhos brilhavam num tom rubro aterrorizador.

Aquele provavelmente seria o fim de qualquer ser humano e em seu lugar muitos estariam se esvaindo em medo e desespero, mas Steve não era humano e naquele momento estranhamente ao inves de pavor, ele estava tomado pela mais pura e primitiva fúria... Uma nuvem vermelha enfim cobriu por completo seus olhos obscurecendo sua visão, um som como de muitos tambores ecoaram em seu crânio, enquanto trovões pareciam estourar em seus ouvidos, No âmago de seu ser ele pode sentir um poder palpável florescer dentro de si quebrando as últimas travas que o mantinham sob controle. Uma onda de fogo e fúria fluiu pelo seu corpo, subiu pela sua garganta e explodiu na forma de um uivo primal e aterrorizador...

Steve, agora transformado na forma de um enorme "homem-lobo" de pelos negros , recebeu seu adversário com as garras em riste, não hesitando em crava-las em seu peito. O monstruoso Klaus ganiu de forma aguda pela dor, mas isso não deteve sua trajetória. Pelo impacto de seu pesado corpo, ambos foram arremessados e rolaram por metros, destruindo mesas e cadeiras pelo caminho. Por vários minutos que pareceram uma eternidade, assim eles permaneceram. Mordendo e se arranhando, rugindo e se degladiando de forma mortal, eles travavam ali no velho "barstow" uma batalha apocalíptica a qual parecia que não iria mais ter fim.

O gigante escandinavo possuído pela fúria mortal parecia ser imbatível... a cada ferimento suas forças pareciam se renovar em sua dor. Já Steve pelo contrario, a medida em que o tempo passava, estava ficando cada vez mais cansado. Seus ferimentos e músculos doiam e seus movimentos já não eram mais tão rápidos. Naquele momento ele lutava única e exclusivamente por sua vida, até o mais tolo sabia que tombar ali, diante daquela fera, significaria nunca mais ver o sol nascer de novo. O lobo sombrio também tinha a consciência de que se perecesse, todos aqueles feridos inconscientes seriam os próximos a sentir a ira da criatura descontrolada...

Mas por mais que Steve se esforçasse heroicamente além de seus limites e Klaus estivesse extremamente ferido, naquele estado ele dava a impressão de ser praticamente invencível. A cada momento a coisa parecia ir de mal a pior para o sul americano que já não conseguia acompanhar seus movimentos. E quando ele mesmo achava que nada mais poderia dar errado, a nuvem rubra que cobria seus olhos aos poucos começou a se dissipar. Lentamente ele sentiu seu corpo diminuir e aquela força mística esvaecer - Nãaao, nãaao !!! Agora nãaaao!!! - desesperou-se o jovem latino ao sentir "a magia" o abandonar enquanto a criatura de quase três metros "programada" para destruir uivou alto e longamente como se sentisse a vitória se aproximar antes de correr impiedosamente em sua direção...



Nota do Autor: Inaugurei essa sessão de notas no post 7 falando um pouco sobre os cinco augúrios dos urathas, os quais determinam sua função dentro de uma matilha. Neste post, vou dar uma descriçao básica sobre dois poderes excepcionais dos lobisomens: A incrivel capacidade de regeneraçao e a possibilidade de mudar de formas que um uratha pode assumir com suas vantagens e regras para o sistema atual.

Regeneração

Uma pessoa normal recupera um ponto de dano concussivo a cada 15 minutos; um ponto de dano letal a cada dois dias e um ponto de dano agravado por semana. Lobisomens regeneram um ponto de dano concussivo por rodada; um ponto de dano letal a cada 15 minutos. Ao custo de um ponto de essência, um Uratha pode regenerar um ponto de dano letal como ação reflexiva.

As 5 Formas

Hishu
- humano normal. A regeneração extraordinaria dos urathas também ocorre nesta forma. Atributos não se alteram.


Dalu - quase humano. Esta é a forma que Steve assume espontaneamente nos posts em que a briga começa no bar para auxiliar Constância. Ela acrescenta 15 centímetros e aproximadamente 15 a 30 kilos de massa muscular à forma hishu. Inflige delírio -4.

Força+1 Vigor+1 Manipulação-1 tamanho+1
Vitalidade+2 Deslocamento+1 +2 em testes de percepção.

Gauru - homem lobo. A forma clássica do lobisomem. Esta forma representa a fúria que reside em cada Uratha. Ela proporciona entre 60 a 90 centímetros de aumento na altura e 100 a 125 kilos de massa muscular. Nesta forma o lobisomem entra numa espécie de frenesi controlado, onde precisa atacar algo ou alguém todas as rodadas ou então se mover na direção de um alvo visível. Devido ao esforço necessário para manter o controle, um lobisomem não pode se manter na forma gauru indefinidamente, e sim por Stamina(básica)+Primal Urge rodadas por cena. Causa dano letal e recebe um dado extra de dano por garra e dois dados no dano da mordida. +3 nos testes de percepção. Ignora penalidades por ferimentos e não precisa fazer testes para evitar inconsciência.

-2 para resistir Fúria-Morte. Falha automaticamente em todos os testes sociais e mentais. Força+3 Destreza+1 Vigor+2 Tamanho+2 Vitalidade+4 iniciativa+1 Deslocamento+4 Armadura 1 corpo-a-corpo/1 balística.

Urshul - quase lobo. Forma de um lobo atroz entre um a 1,5 metros de altura e 1,80 a 2,40 metros de comprimento. Combina capacidade de combate com maior controle emocional do que a forma gauru. Inflige delírio-2.

Força+2 Destreza+2 Vigor+2 Manipulação-3 Tamanho+1 Vitalidade+3 iniciativa+2 Deslocamento+7 +3 em testes de percepção e pode causar dano letal com garras e mordida.

Urhan - lobo. Os sentidos do Uratha ficam super aguçados nessa forma.

Destreza+2 Vigor+1 Tamanho-1 Iniciativa+2 Deslocamento+5 +4 em testes de percepção e pode causar dano letal com mordida.



Sistema: Mudar de forma exige um teste de Stamina (básica, sem moficações)+Survival+Primal Urge durante uma rodada. Ao custo de um ponto de essência, não é necessário teste e a transformação é reflexiva. Retornar à forma hishu também é uma ação reflexiva e não acarreta nenhum custo.


23.3.07

Prólogo - Parte 07

Once Upon a Time in New Mexico 07/10




Nunca em sua vida, Klaus havia vivenciado uma experiência tão extraordinária como a daquela noite. Foi como se o mundo real por alguns instantes abaixasse as suas cortinas, para finalmente revelar a ele, uma realidade que até então lhe fora negada.

Sobre o palco, enquanto cantava “In The Claws of Fenrir”, a mágica que ele sempre descrevia em suas canções, realmente aconteceu, por mais incrível que isso possa parecer. Era mais do que uma alucinação, mais do que o delírio de um homem longe de estar sóbrio...

Embora assustado, ele pode ver nitidamente a profusão dos feixes de luz, que se dispersavam em todos os sentidos a partir dos grandes holofotes, mais não de uma forma normal, de uma maneira vibrante, palpável e literalmente viva. Ao se chocarem em qualquer pessoa ou objeto, elas produziam uma pequena e magnífica explosão de cores, que gerava dezenas de pontos de luz, de diversas cores e intensidades, que passavam a cair, rodopiar e piscar como se tivessem vida própria.

Debaixo das mesas ou em qualquer lugar com pouca iluminação, as sombras pareciam se mover de maneira sorrateira. Mostravam-se nitidamente incomodadas por aquela claridade. Elas permaneciam a espreita, esperando o momento certo para atacar os pequenos pontos iluminados, e a medida em que estes se aproximavam do chão, eram devorados de forma feroz e impiedosa por uma imensa onda de escuridão...

Klaus ainda confuso pelo que acabara de testemunhar, esfregava seus olhos persistentemente tentando de alguma forma despertar desse “pesadelo surreal”...

Mas ao abri-los novamente, ainda podia observar tudo ao seu redor intensamente vivo e pulsante. Desde os cabos de energia, que contraiam e expandiam como se estivessem bombeando “litros e litros” de eletricidade para alimentar toda aquela “cadeia faminta” de eletroeletrônicos, até o som das notas musicais que saiam dos enormes amplificadores, as quais inacreditavelmente, pareciam tomar por alguns instantes, a forma material do que era cantado por ele, como um verdadeiro teatro em terceira dimensão que passeava por cima da multidão enlouquecida e segundos depois, desapareciam diante de seus olhos, da mesma forma misteriosa da qual tiveram origem.

Embora o contexto e a lógica gritassem em sua mente, que tudo aquilo não passava do efeito colateral de muita bebida misturada a provavelmente algum alucinógeno que poderiam ter dado a ele antes da apresentação, algo dentro dele contradizia veementemente e de uma forma inexplicável, lhe dava a certeza absoluta de que tudo aquilo era real. Era um sentimento que de uma forma amena o confortava naquela situação, mas mesmo assim, não era o suficiente para deixa-lo menos estarrecido com tudo aquilo.

O ápice das visões aconteceu quando a plenos pulmões ele repetiu o refrão de sua canção. A caixa acústica estremeceu intensamente, como se um terremoto estivesse ali preso e quisesse sair lá de dentro. Klaus recuou temeroso e aos poucos viu surgir dela um gigantesco lobo, de olhos vermelhos intensos, que pareciam arder num mar de fúria descontrolada. Por mais que ele se negasse a acreditar, parecia ser o próprio lobo Fenris das antigas lendas, se materializando bem ali na sua frente.

Ollendorf o encarou num misto de curiosidade e espanto e esperou que assim como os outros elementos da canção ele também desaparecesse, mas diferentemente deles, Fenris não se dispersou. Pelo contrário, a cada instante ele parecia maior e cada vez mais real, graças ao coro de vozes entoando seu nome nos versos, os quais pareciam ir aos poucos o idealizando, como se o imaginário coletivo estivesse se unindo para conceber a fera mítica...

Aos poucos o monstro asgardiano ficou maior, mais forte, denso. Sobre as quatro patas, o grande lobo cinza encarava-o com seus enormes olhos cor de sangue, enquanto rosnava mostrando seus afiadíssimos dentes e de pelos eriçados, caminhava assustadoramente em sua direção.

Klaus boquiaberto pode apenas observar passivo a fera se aproximar ate a distancia de um salto e então quando nada mais parecia o abalar, o lobo o surpreendeu vociferando numa língua perdida, a qual ele jamais ouviu, mas ao mesmo tempo lhe soou nitidamente familiar:

- ASSASSINO!!! Dizia ele furioso, ASSASSINO!!! Repetiu mais uma vez

Antes mesmo que Klaus pudesse compreender completamente o significado de suas palavras, o monstro saltou impiedosamente em sua direção para um ataque o qual não haveria escapatória...

Ao invés do impacto dos dentes afiados, um assalto de odores, sons, texturas, sabores e cores o invadiu e fez com que Klaus perdesse o controle de suas funções motoras. Uma enorme vertigem o atingiu. Ele não conseguiu se conter e seu corpo em resposta a tantos estímulos o fez regurgitar. Ainda zonzo, ele sentiu seu pés sendo puxados e suas costas batendo contra o chão. Desesperado e sem saber exatamente o que o havia derrubado, instintivamente ele tentou se defender com o suporte do microfone que ainda estava em suas mãos. Com o que restava se suas forças ele lançou o objeto de metal na direção em que parecia ter sido atacado e então desabou aparentemente inconsiente no chão.

Suas vistas escureceram, um silêncio sepulcral envolveu o ambiente. Ele parecia não estar mais ali...

“Flashes” de momentos passados, acontecimentos ainda não vividos por ele, elementos de um possível futuro, tudo muito rápido, tudo muito intenso, tudo ao mesmo tempo. Aos poucos, a velocidade das informações foram diminuindo e ele se viu de uma forma onírica em um terreno árido onde haviam cinco lobos cercando outros dois, como em um sonho confuso e desconexo, os céus rapidamente escureceram e uma terrível tempestade fez com que a matilha fugisse, deixando apenas os outros dois lobos que estavam sob ataque, sozinhos a mercê do grande tornado que se anunciava no horizonte. Quando tudo parecia perdido para ambos, uma ínfima faísca surgiu da terra e gerou uma pequena chama que não se extinguia, mesmo em meio aos fortes ventos, ela começou a crescer, até se transformar numa imensa bola de fogo que ascendeu aos céus tomando o lugar do sol, dispensando as trevas e iluminando todo o ambiente...

Então novamente tudo escureceu e somente então sua consciência pareceu ir retornando aos pouco. Gritos e sons de uma imensa confusão invadiram seus ouvidos, a medida em que o tempo passava, eles iam se tornando mais nítidos. Vidros se quebrando, homens discutindo, um verdadeiro caos parecia ter dominado o ambiente. Seria essa outra alucinação?

Infelizmente não...

Ollendorf tremia, seu coração estava acelerado e sua mente completamente desorientada por um medo primitivo. Ele não sabia o que estava acontecendo naquele lugar e muito menos o que havia acontecido com ele àquela noite. Vagarosamente abriu os olhos, sua visão ainda estava turva. Pânico, correria e violência... foi isso que ele testemunhou. Imediatamente ele tentou se levantar, mas não conseguiu. Temendo por sua segurança, arrastou-se buscando encontrar abrigo além da cortina negra atrás do palco. No caminho, ele pode observar o lobo etéreo que o havia atacado se desmaterializando, uma vez que a multidão havia se dispersado, ele pareceu ter perdido suas forças e desapareceu como os outros elementos da música.

Oculto aos olhos da multidão atrás do pano escuro, ele pode enfim se deitar esperando a tontura passar. Permaneceu ali, encolhido e inerte por alguns minutos como se estivesse em estado de choque.
Mas sua paz momentânea foi violada abruptamente ao sentir um duro chute em suas costelas, que o arremessou contra a aparelhagem de som nos bastidores. Exaurido, conseguiu apenas levantar seu rosto para ver o que havia lhe acertado e viu um jovem desconhecido de cabelos loiros, na altura dos ombros, encarando-o de cima com um considerável pedaço de madeira na mão direita. Ele quis chorar mais as lagrimas não vinham, ele sabia o que iria acontecer, mais não entendia o porque. Antes de golpeá-lo violentamente nas costas, o rapaz disse algo como – “Você vai ter o que merece bacalhau!” - Com todas as forças ele tentou gritar por ajuda, mais apenas um som parecido com um uivo agudo ecoou de sua garganta. Encurralado ele arrastou-se mais uma vez buscando escapar do rapaz, mais com outro chute ele foi contido, desabando perto da pequena janela onde a luz da lua minguante iluminava o ambiente. Seu algoz ainda gargalhava alto por ouvi-lo “imitar um cachorro” enquanto apanhava.

Nunca em sua vida ele se sentiu tão confuso, impotente, humilhado, revoltado e anormalmente furioso. Esse misto de emoções foi o agente catalisador da coisa mais inacreditável que aconteceria naquela noite. Seu corpo começou a arder como se ele tivesse sido lançado dentro de um vulcão. Seu coração passou a martelar seu peito como se fosse explodir. Era como se um mar revolto de fogo o lavasse por dentro, desde o âmago do seu ser, ate seus poros. Ele sentia essa fúria explosiva fluindo e o dominando. Sua pele rasgou de dentro para fora, seus dentes cresceram e se amontoaram em sua enorme mandíbula, as suas roupas ficaram pequenas para seus músculos e se partiram como se fossem de papel. Completamente transformado numa criatura gigantesca e horrenda, híbrida entre homem e lobo, Ollendorf emitiu um som gutural o qual aquele jovem jamais havia imaginado ouvir em toda sua vida, nem mesmo na melhor e na mais ameaçadora produção holywoodiana, com a ajuda de toda tecnologia de efeitos especiais que o dinheiro pode comprar, seria possível reproduzir o terror de se ver e ouvir aquilo...

Provavelmente ninguém no mundo seria capaz de descrever o pavor deste rapaz ao presenciar a transformação de um verdadeiro lobisomem; os ossos estralando, a carne sendo moldada,
a massa muscular triplicando e sendo coberta por uma densa pelagem, os espasmos de dor, as garras rasgando o chão produzindo um agudo e estridente barulho no chão, arrepiando todos os seus pelos e por fim, o desesperador som do poderoso uivo em um tom inumano, soando quase como um trovão ecoando em seus ouvidos...

Absolutamente ninguém no mundo conseguia expressar em mais do que duas palavras o pavor de estar frente a frente com uma verdadeira maquina de guerra viva e sem controle, urrando, babando e vindo em sua direção...

E o pior de tudo...

É praticamente impossível imaginar a decepcionante sensação de que de todas as pessoas do mundo e de todos os lugares que você poderia estar numa bela noite de sexta-feira, justamente você, é o cara que esta ali, no lugar errado e na hora errada e foi o grande azarado que cruzou o caminho da "morte sobre quatro patas num dia ruim" e ela esta ali, diante dos seus olhos, prontinha para cumprir em você o seu papel nessa terra:

Destruir...



Nota do Autor: Bem pessoal, a partir deste post, vou inaugurar essa sessão de notas que trará informações explicativas referentes ao jogo o qual este conto é baseado. Muitos leitores não conhecem a fundo o novo cenário, sistema de regras e alguns termos do jogo. Por isso, sempre que se fizer necessário, colocarei junto ao texto uma nota como esta contendo informaçoes tanto para auxilia-los a entender melhor a historia, como para aqueles que esperam ansiosamente pelo lançamento do livro em portugues possam ir conhecendo passo a passo um pouco mais do werewolf the forsaken...

A nota de hoje vem revisar o post acima a fim de desmistifica-lo em termos mais simples. Klaus, assim como Steve, é um Uratha, que na primeira língua seria o proporcional para nos a: lobisomens.

Cada uratha possui um auspício, que representa uma das cinco faces do Lobo Primordial e indicará sua responsabilidade e dever dentro de sua matilha. Sempre que um uratha sofre a "Primeira Mudança" esse momento não fica marcado apenas pelo momento de transformação terrível, mas pelo breve momento de comunhão com o coro lunar relacionado à atual fase da lua que é indicado pela lua a qual ele sofreu a sua primeira transformação. Assim como as faces do Pai Lobo e as fases da lua eles são cinco:


Rahu - O Guerreiro - Lua Cheia (Full Moon)
Cahalith - O Visionário - Lua Minguante (Gibbous Moon)
Elodoth - O Juiz do Equilíbrio - Meia Lua (Quarter Moon)
Ithaeur - O Mestre Espiritual - Lua Crescente (Crescent Moon)
Irraka - O Caçador - Lua Nova (New Moon)

Como pode ser visto, Klaus é um Cahalith, pois teve sua primeira transformação sob a benção da lua minguante e o presente de Luna para todos desse auspício é a visão. A primeira mudança para aqueles nascidos sob essa lua geralmente envolve visões do imaterial - parte alucinação, parte visões do mundo espiritual (Como aconteceu com Øllendorf nesse Capítulo). Estas visões podem ser demais para um jovem e inexperiente uratha devido aos muitos estimulos sensoriais que elas infligem, sendo mais do que suficientes para fazê-los perder o controle. Por conta disso, frequentemente, o Cahalith é levado a uivar alta e longamente numa tentativa de expressar seu medo, confusão e alegria - o que pode fazer outros lobisomens encontrá-lo mais facilmente.

Renome primário do Auspício - Glória.

Especialidades - Oficios, Expressão e Persuasão.

Lista de Dons - Lua Minguante, Inspiração e Conhecimento.

Habilidade de Auspício - Sonhos Proféticos. Uma vez por estória, o jogador pode pedir ao narrador uma profecia em seu sono, fornecendo assim alguma pista sobre o que desafiará o Cahalith. O sonho é sempre velado em simbolismo, o qual o jogador deve interpretar. O Cahalith também recebe um dado em qualquer teste de Occult feito para interpretar profecias ou resolver enigmas.

Quota - "Ergam suas vozes! Rasguem o céu! Uivem sua raiva, seu desespero, sua dor e sua esperança! Cantem para Mãe Luna, e que ela saiba que seus filhos ainda são fortes!"

13.2.07

Prólogo - Parte 06

Once Upon a Time in New Mexico 06/10




A velha mexicana ainda tentava entender o motivo do jovem Steve ter saído tão abruptamente de seu estabelecimento, mesmo depois dela ter despendido tanta atenção a ele. Por um instante achou ter dito algo que poderia tê-lo ofendido ou irritado, mais o que poderia ter sido?

Seus pensamentos estavam distantes, tentavam achar uma razão para aquela atitude, ate que ao passar despretensiosamente seus olhos pelo salão, percebeu os primeiros sinais de problemas a sua volta.

No palco, o vocalista da banda contratada parecia de longe não estar nos seus melhores dias, a impressão que se tinha, era que estava completamente drogado. Havia uma mistura de pavor e descrença nos olhos do rapaz, como se estivesse tendo uma alucinação. “Mama” imediatamente pensou em fazer algo, estava preocupada não só com a saúde do rapaz, mas com a integridade de seu patrimônio. Ela sabia muito bem do que clientes bêbados e insatisfeitos eram capazes, então mais do que depressa, levantou-se decidida a interromper a apresentação.

Mas infelizmente tudo aconteceu muito rápido.

Quase que em câmera lenta, ela observou os movimentos do cantor tornarem-se desequilibrados, suas pernas pareciam não o obedecer mais, até que escorado no suporte do microfone, regurgitou na platéia.

Foi o suficiente para transformar aquele salão num verdadeiro campo de guerra. Em questão de segundos, a confusão tinha tomado proporções catastróficas. Mesas e cadeiras de mais de cinqüenta anos, conservadas por ela como relíquias, transformavam-se em armas nas mãos de homens e mulheres mais exaltados. Copos, garrafas e vidraças, estraçalhavam-se em todas as direções e aos poucos, o desespero passou a dominar Constancia. Tudo que lhe havia restado de valor nesta vida, estava dentro daquele bar. Suas recordações, seu passado, sua historia. Tudo estava sendo destruído diante dos seus olhos.

Sem controlar as lágrimas e com um imenso nó na garganta, ela partiu disposta a acabar de uma vez por todas com aquela situação. Correu o máximo que pode na direção do balcão, tentando alcançar desesperadamente a espingarda na parede. A distância de pouco mais de quatro metros que a separava da arma, pareceram mais de quarenta quilômetros, enquanto ela se esquivava dos focos de briga em seu caminho e dos escombros que cruzavam pelo salão. Ao se aproximar, mais do que depressa, passou por debaixo do biombo, e seguiu direto pelo estreito corredor, até chegar debaixo do exato lugar onde a espingarda estava. Ou melhor, deveria estar. Sem acreditar nos seus olhos, ela observava a parede vazia, apenas com o suporte onde a arma repousava. Seu coração bateu mais forte, por alguns instantes faltou-lhe o ar. Com uma mão sobre seu peito e a outra apoiada no balcão, ela tentou não deixar a situação dominá-la. Respirou fundo algumas vezes, tentando espantar o pânico e passou a procurar o destino de seu rifle de caça.

Violência, sangue e destruição. Era tudo o que ela via por onde quer que passasse os olhos. Embora o tumulto fosse grande, não demorou para que ela o encontrasse. Avistou a poucos metros dela, também do lado de dentro do balcão. Estava em posse de um jovem muito alto, branco, com os cabelos castanhos e arrepiados. O destino da bala parecia certo, a cabeça do vocalista da banda. Antes que o pior acontecesse e sem pensar nas conseqüências, Constancia se atirou contra o jovem, quando este engatilhou a espingarda e fez menção em apertar o gatilho.

O estrondo do tiro soou como um toque de recolher. Tomadas pelo pânico, dezenas de pessoas correram em direção a saída. Rapidamente uma multidão se formou em torno da porta, onde todos digladiavam entre si buscando passar para o lado de fora o mais rápido o quanto fosse possível. Ninguém parou para observar de quem veio ou para onde foi o disparo. O instinto de sobrevivência falou mais alto e no ápice do desespero, janelas eram destruídas e usadas como rota de fuga para os mais apavorados.

O jovem atirador irritou-se por ter sido interrompido pela velha, que com todas as forças ainda lutava para tirar a arma de suas mãos. Sem o mínimo de piedade, ele acertou uma violenta cabeçada no rosto de Constancia, que instantaneamente amoleceu e apenas viu o cabo da espingarda vindo em direção a sua cabeça antes de tudo escurecer...

Novamente ele empulhou a arma apontando na direção de Klaus, que assustado - e aparentemente alheio a tudo que acontecia a sua volta - se arrastava tentando se esconder atrás do pano preto improvisado no palco, onde ele tinha começado sua apresentação. Com o vocalista na mira e indefeso, ele somente exitou apertar o gatilho, quando viu mais três de seus amigos se aproximando do cantor. Munidos de garrafas e pedaços de madeira, eles finalmente tinham se desvencilhado da multidão, para “dar aquele maldito drogado europeu o que ele merecia”. Eram quatro contra um. A situação parecia obvia.

Klaus estava ferrado...

Mas nenhum de seus algozes contava com o rapaz alto, de traços latinos, que havia permanecido mesmo quando a lógica sugeria uma atitude menos heróica em prol de sua própria segurança. Ele presenciou toda brutalidade e falta de respeito para com a dona do bar. Embora ele a conhecesse há poucos minutos, ela havia deixado bem claro o que aquele estabelecimento significava em sua vida. Não foram muitas as palavras, mais foram suficientes para que ele pudesse perceber, que o que estava sendo destruído e espalhado pelo chão, era muito mais do que madeira ou vidro, eram vestígios de uma vida inteira...

Preciosas lembranças...

Sem elas perdemos nosso rumo, nos esquecemos
quem realmente somos e de onde viemos .Assim como a velha senhora e seu "saloon", as lembranças eram as únicas coisas que ainda restavam na vida de Steve. Eram elas que o definiam como pessoa e mantinham suas forças para continar em frente.

Assistir uma mulher tão boa como Constancia perder tudo isso de uma forma tão brutal e inconseqüente, fez com que uma enorme chama se acendesse em seu peito. Ela rapidamente se alastrou e passou a queimar e arder cada vez mais forte clamando por justiça. Para o azar do rapaz armado e seus companheiros, Steve estava ali e estava furioso...

Ele lutou bravamente contra a nuvem rubra de fúria que tentou cobrir seus sentidos, resistiu como um herói contra a compulsão selvagem de retribuir em dobro toda crueldade despendida contra aquela senhora indefesa. Ele até hoje não sabe muito bem o que realmente aconteceu da primeira vez em que se deixou levar por seja lá o que fosse esse “impulso”, mas ele ainda carrega dentro de si a dor das conseqüências daquele dia.

Mas hoje era diferente, essa “força” era necessária e ele mais do que em qualquer outra situação "a desejava".

Naquele noite, sua maldição se tornaria seu poder. Ele não poderia ficar passivo diante daquela situação. Algo dentro dele o impelia a fazer o que era certo, mas ao mesmo tempo, ele não desejava perder o controle novamente. Consciente disso, concentrou-se tentando evitar que a raiva atrapalhasse seu raciocínio. Permitiu que aquela chama que ardia em seu peito, se alastrasse por cada parte do seu ser. Então subitamente, suas roupas passaram a ficar apertadas em seu corpo a medida em que ele começou a crescer. Seus músculos tornaram-se rígidos e definidos, seus braços estavam cobertos por longos e esparsos pelos negross e seus olhos agora tinham um tom azul muito claro, próximo ao branco. Sem sombra de duvida, eles eram a parte mais assustadora da expressão bestial que ele acabara de assumir, com caninos afiados e leves traços lupinos...

Por alguns instantes, ele estudou seu alvo e antes que ele pudesse ser percebido, saltou surpreendentemente por cima do balcão e aterrissou fincando o que pareciam ser mais garras do que unhas, na nuca do jovem armado. Foi um golpe de sorte certeiro. Pego de surpresa, o atirador deixou que a arma caísse de suas mãos e em segundos, passou de caçador para caça.

Estava completamente imobilizado, de bruços e a mercê de Steve, que o mantinha preso com os joelhos firmes em suas costas e pressionando seu rosto contra o chão. Ele pode ver os primeiros fios de sangue brotando e começando a escorrer pelo pescoço do rapaz, devido a força com que cravou suas garras na carne dele. Seu coração estava acelerado, suas veias latejavam de excitação ao sentir sua presa tão próxima, dominada e exalando o inconfundível aroma que o medo produz. Steve observou por alguns instantes o desespero do rapaz, que se debatia tentando alcançar a espingarda com uma das mãos. Então com o mesmo requinte de crueldade que ele viu Constancia ser atingida, ele retribuiu ao seu agressor. Sem ter uma noção exata de sua força, Steve largou o pescoço e segurou firme em um tufo de cabelo de sua vitima e mesmo não sendo sua intenção, suas unhas chegaram a perfurar o couro cabeludo do rapaz.

O jovem imobilizado, pensou em gritar, pedir ajuda, mais seu orgulho não permitiu, achou realmente que daria conta do recado. Estava apenas ganhando tempo até alcançar a arma - “Esse cara não sabe com quem esta se metendo” – Repetia para si mesmo. De tanto tatear, realmente ele chegou a tocar com um dos dedos na espingarda, mais no exato momento em que sentiu o frio do aço, foi erguido pelos próprios cabelos e em seguida teve seu rosto lançado violentamente contra o piso. Uma, duas, três vezes. Sua consciência aos poucos foi se esvaindo, mas antes que perdesse completamente os sentidos, sentiu seu corpo sendo virado e enfim pode olhar nos olhos de seu oponente. Sua expressão imediatamente refletiu seu espanto. Ele era enorme, tinha traços caninos e terríveis olhos azuis, claros e frios como o gelo. Pensou estar louco, mais era exatamente isso que estava diante de seus olhos. Um desespero primordial e inexplicável passou a tomar conta de sua mente.

Sem ao menos ter tempo para que pudesse colocar em ordem seus pensamentos, “a criatura” agarrou-o como se fosse feito de papel pelo pescoço e com sua mão esquerda, ergueu-o acima da altura da cabeça com uma força sobrenatural. Assustado e sem forças para reagir, pode apenas observar de forma passiva ele lentamente erguer para trás o braço direito com o punho cerrado, ameaçando desferir o soco que certamente terminaria o confronto. Mas antes de nocauteá-lo, ele olhou em seus olhos de uma forma que congelou sua espinha e vociferou em um tom grave, quase que inumano – "Isso é pela velha" – Apenas o medo que sentiu naquele momento o teria feito perder a consciência, mas para sua infelicidade isso não aconteceu. A última coisa que viu, foi a mão da fera, erguida e fechada de forma firme, vindo em direção de seu rosto estraçalhando seus dentes. Steve esperou pacientemente até que os olhos de seu inimigo se fechassem, para só então lançá-lo como um saco de estrume no chão.

Agora só faltavam três...

Pisando sobre o corpo do atirador completamente inconsciente, ele caminhou em direção ao balcão e usando apenas uma das mãos, pulou para o outro lado. O pequeno ruído de vidro se estilhaçando na sola de seu coturno era só um aviso para os outros, que ele estava chegando para terminar de uma vez por todas aquilo que havia começado...

9.2.07

Prólogo - Parte 05

Once Upon a Time in New Mexico 05/10




Desde os seus quinze anos, quando penhorou o forno de microondas de sua avó para comprar sua primeira guitarra elétrica, Klaus
Øllendorf persegue o sucesso.

Ele soube o que queria ser pelo resto de sua vida após ouvir "The Number of The Beast", interpretada pelo então estreante Bruce Dickinson, enquanto passava em frente a uma loja de discos que ficava a quarteirões de sua casa. Foi paixão a primeira distorção. Na semana seguinte em que se recuperou da surra que levou de seu pai pela penhora, ele se juntou com amigos que como ele curtiam Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath, Judas Priest, entre vários outros ícones do heavy metal e formou sua primeira banda, o Mjolnir. Passaram-se longos oito anos desse dia até hoje, mais ele continua sendo o mesmo jovem rebelde e irresponsável. Apaixonado pelo som pesado, repleto de virtuosos solos de guitarra e letras inspiradas nos velhos contos “asgardianos” contados pelo seu avô durante sua infância.

Tocar fora da Noruega, sua terra natal, era não só para ele, mais como para todos de sua banda, a realização de um sonho. Finalmente estar ali, no berço do rock, dando o primeiro passo “rumo ao sucesso”, era o ápice de suas vidas e isso deveria ser comemorado. E foi, durante os últimos dez dias, todos eles regados a muita vodka, sexo, drogas e é claro, rock in roll. Quando perceberam que todas suas economias haviam desaparecido em pouco menos de duas semanas e só lhes restava o carro, o trailer onde dormiam e seus instrumentos. Klaus e seus amigos trataram de arrumar um lugar para tocar. Foi assim que eles chegaram ao El Rancho.

A casa estava ficando cheia. Eric, Harald e Svein cuidavam do som, enquanto Øllendorf se concentrava em seu ritual particular antes da apresentação. Normalmente além de exercícios específicos para suas cordas vocais ele sempre costumava tomar duas doses de vodka para “aquecê-las”. Hoje não poderia ser diferente, mas como tratava-se de uma noite de "estréia", Klaus tomou três só para garantir.

A medida em que o tempo foi passando, sua ansiedade também aumentava. Para piorar, alguma coisa parecia não estar dando certo com a parte elétrica na instalação dos instrumentos. Seus três amigos iam e vinham pelo salão, que cada vez mais estava ocupado por pessoas que aguardavam pelo inicio do show, com metros e mais metros de fios enrolados nos ombros, discutindo sobre tomadas, voltagens e extensões. Para aliviar a tensão, Klaus tomou algumas “margueritas” – contem duas ou três - e experimentou algumas doses da famosa tequila mexicana da “Mama Constancia”. Seis para ser exato.

“Dádiva dos deuses”, ele dizia - Sempre funcionava. Não demorou para que a mistura fizesse efeito. Logo se sentiu mais leve, solto e desinibido. Desceu do palco, conversou com o publico, riu, flertou e bebeu mais um pouco de cerveja.

“Pouco” é uma mera forma de expressão irônica...

Quando enfim tudo estava pronto e todos da banda demonstravam estar a postos, Klaus despediu-se de suas “novas amigas” e subiu cambaleante no palco. Concentrou-se apenas em ficar de pé por de trás do pano preto improvisado. Seus amigos de imediato perceberam o estado do vocalista e ao verem a multidão já impaciente, entraram numa onda conjunta de desespero. Afinal, eles precisavam muito daquele dinheiro. Svein mais do que depressa, se levantou da bateria e correu até uma das atendentes do bar implorando por um copo de “açúcar com um pouco de água”, torcendo com todas as forças para que a glicose cortasse um pouco o efeito do álcool. Harald foi para traz do pano e não pensou duas vezes quando derrubou sobre ele um balde de água e gelo. A todo momento ele o esbofeteava para que ele não caísse no sono. Eric parecia um corredor olímpico quando foi e voltou ao trailer para pegar outro molho de roupas para trocá-lo. Sem nem mesmo olhar para Klaus e Harald, ele jogou a trouxa de roupa na mão do baixista e imediatamente foi para frente do palco. As luzes se apagaram e o globo de prisma se acendeu. De improviso, começou um solo de guitarra para entreter o público e ganhar um pouco mais de tempo. Alguns minutos depois, Svein e Harald seguiram para seus postos, após se certificarem que o cantor dava sinais de melhora.

Quando o baixo e a bateria entraram na melodia frenética da guitarra, o vapor de gelo seco subiu e enfim chegava a hora da deixa na musica para que Klaus entrasse, todos fecharam os olhos pedindo para tudo o que fosse mais sagrado, para que o vocalista fizesse sua parte. Então com um belo gutural ele levantou a platéia e fez com que seus companheiros enfim respirassem aliviados. O álcool pareceu não afetá-lo de inicio. Tudo saiu perfeito durante a interpretação de “Welcome to the Raganarok”, e nas duas músicas seguintes. Mas na canção numero quatro, “In The Claws of Fenrir”, Klaus deu os primeiros sinais de não estar passando bem. Seus olhos pareciam estar sem foco, seus movimentos começaram a se tornar mais lentos e sua voz na melodia tornou-se descompassada. Eric, experiente e habilidoso, colocou a guitarra em evidencia com mais um solo destruidor e o publico nem sequer percebeu a recaída do vocalista, pelo contrario, urravam e pulavam como nunca no salão. Svein sem perder o ritmo, observava impotente seu companheiro esfregando insistentemente as mãos nos olhos como se quisesse apagar a força alguma imagem gravada em sua retina. Parecia assustado, olhava para tudo a sua volta desordenadamente como se estivesse cercado de perigo.

Definitivamente havia algo de muito errado com ele...

E por mais que todos da banda alimentassem a esperança de que fosse apenas um mal estar passageiro, a tragédia anunciada não demorou para se concretizar. Øllendorf foi subitamente tomado por uma forte sensação de vertigem, seguida de enjôo e dor intensa na região do abdômen. Cambaleou para a beira do palco com uma das mãos na cabeça e a outra se escorando no suporte do microfone, pedindo para que aquela sensação fosse embora logo. Tudo em sua volta parecia estar girando como um carrosel macabro, a dor era intensa. Sem forças para se conter, ele apenas sentiu o liquido quente queimando sua garganta a cima, terminando por regurgitar sobre uma telespectadora próxima a ele. Imediatamente um rapaz que parecia ser o namorado dela, agarrou firme nos seus tornozelos e o puxou, fazendo-o cair violentamente no chão. Com o tripé ainda firme em sua mão, Klaus afundou com toda sua força a base do suporte de metal na cara do seu agressor. O microfone voou e caiu próximo a caixa de som fazendo que uma microfonia aguda e intensa tomasse conta do recinto. Inerte no chão, o rapaz sangrava muito, parecia estar completamente desacordado, enquanto a garota toda suja, gritava a plenos pulmões para que ajudassem o seu namorado. O vocalista ainda zonzo, tentava se levantar, enquanto seus companheiros de banda já prevendo o pior, tratavam de pegar o que podiam entre seus instrumentos e acessórios de valor para sair logo dali. Os amigos do jovem que estavam longe do palco, quando perceberam o que a havia acontecido, correram como uma manada de búfalos em direção a banda. No meio do caminho, esbarraram em um motoqueiro bêbado que não gostou nada do choque, um caminhoneiro também não muito sóbrio tomou as dores. Uma confusão de proporções gigantescas deu-se inicio.


7.2.07

Prólogo - Parte 04

Once Upon a Time in New Mexico 04/10




Mesmo sem o rapaz aparentemente demonstrar muito interesse, Constancia se pós a falar. “Steve” foi obrigado a ouvir contos que remontavam o passado distante da família Cortez, desde o velho Hernan, o patriarca da família, que a dezenas de anos atrás partia da “Ciudad de Obregon” em uma jornada em busca de sucesso e realização rumo a América Norte, passando pela construção do El Rancho, até a triste e derradeira história da perda de seu marido e filho. Ao terminar seu relato, o semblante do rapaz encontrava-se perdido e distante, assim como seus pensamentos.

Desencadeadas pelas palavras da velha senhora, mil imagens atravessaram a mente de “Steve”. Mais uma vez ele presenciou um turbilhão de acontecimentos que pertenciam a um passado não muito distante, o qual ele exalstivamente tentava esquecer. Visões estas que o atormentavam todas as noites ao se deitar. Lembranças que o impeliam a partir a cada manhã para cada vez mais longe de pessoas que ele amava, de pessoas que faziam parte de sua vida e lhe faziam bem, longe de pessoas boas como Constancia. Uma fusão de sentimentos distintos como amor, saudade, culpa, raiva e arrependimento invadiram seu ser, mas antes que estes o dominassem ele os conteve. Então tão rápido quanto entrou neste universo de recordações, “Steve” despertou. Imediatamente se levantou olhando através da vidraça, como se estivesse procurando por alguém lá fora. Passou a mão sobre a alça de sua mochila e colocou-a sobre seu ombro esquerdo – “Obrigado pela hospitalidade” - disse o garoto olhando friamente para ela. Sem dar vazão a qualquer questionamento da senhora, virou-se seguindo em direção a saída. Constancia ficou atônita, sem entender absolutamente nada enquanto o viu passar pela porta.

Ao sair do estabelecimento, a brisa da noite lhe trouxe um aroma familiar, mas de certa forma desconhecido. Um arrepio gelado percorreu toda a extensão de sua espinha. Atento, olhou ao seu redor, em meio a escuridão da estrada. Até onde seus olhos alcançavam, nada se movia. Mas uma vez tudo estava quieto. Quieto demais. E ele mais do que ninguém sabia que isso não era nada bom. Parado em frente a porta, cada vez mais forte ele sentia uma sensação claustrofóbica o envolvendo, como se estivesse sendo cercado. Era como se a própria escuridão o abraçasse. Por instinto, deu um passo para trás e tocou a maçaneta da porta. Sem tirar os olhos da estrada, voltou para dentro do “saloon”.

Foi quando um agudíssimo e dolorido som estridente ecoou pelo bar. “Steve”, assim como todos ali dentro, levou imediatamente as mãos sobre os ouvidos, mas o timbre era tão alto, que seus tímpanos estavam o ponto de explodir. Os segundos que se passaram pareceram uma eternidade pela intensidade e dor causadas pelo barulho.

Ainda desnorteado, o rapaz tentou se recompor o mais rápido que pode. Seus ouvidos ainda zumbiam quando em fim seus sentidos entraram em sintonia, a visão era de selvageria generalizada. Um verdadeiro campo de guerra estava formado, onde motoqueiros e caminhoneiros se degladiavam ferozmente, distribuindo socos e pontapés em quem aparecesse pela frente. Confuso, “Steve” levou alguns segundos para assimilar o que “raios” havia acontecido ali.
Haviam copos e garrafas cruzando o salão, cadeiras e mesas sendo usadas como armas. O caos estava completamente formado e as coisas pareciam que não poderiam ficar piores...

Até que se ouviu um tiro...

Prólogo - Parte 03

Once Upon a Time in New Mexico 03/10




A fim de desmistificar suas suspeitas, Constancia foi direto ao ponto. "O que faz tão longe de casa, estranho? - Indagou ela num castelhano perfeito -” E por quê você quer saber?”- respondeu o garoto na mesma língua, sem nem mesmo levantar os olhos”.

Ela não conteve um leve sorriso. Sem querer ele havia dado mais uma pista, seu espanhol tinha um levíssimo sotaque e somente um país sul-americano não tem essa como sua língua corrente. Certa de suas conclusões, ela então respondeu - "Eu sou muito curiosa. E também gosto de conversar com brasileiros"- O rapaz grunhiu com indiferença e olhando com descaso irônico disse. "Lá de fora pensei que isso fosse um bar, não uma tenda cigana” Desta vez Constância gargalhou de verdade, ela adorava estar certa. Ela nunca errava. Talvez essa fosse a coisa que seu falecido marido Ruben mais odiava nela. Como se já não bastasse ser esperta ela tinha que ser exibida? Era o que ele sempre dizia...

Aos poucos ela se recompôs, sem ainda saber porque, ela havia simpatizado com o rapaz. Talvez porque inconscientemente esse jeito fechado, rebelde, mas ao mesmo tempo "levemente inseguro" lembrasse muito seu finado filho. Ela fez um sinal para que uma de suas garçonetes trouxesse algo para beber e voltou a papear com o garoto, mas ele parecia sempre estar na defensiva, tenso e desconfortável, talvez pelo fato dela saber sua origem.

Sem um pingo de timidez, a velha senhora tratou de quebrar rapidamente o clima desconfortavél com seu indiscutível carisma e jogo de cintura – “Desculpe, onde estão meus modos, eu me chamo Constancia Cortez, mas os pessoal aqui do El Rancho costuma me chamar de ”Mama” – era impossível não gostar da velha mexicana quando ela se dispunha a ser simpática, mas de alguma forma ele insistia em manter a conversa em um tom menos pessoal – “Steve” – ele respondeu estendendo a mão para um comprimento, ao mesmo tempo em que a garçonete colocava sobre a mesa uma imensa e cristalina caneca de cerveja, transpirando de tão gelada, coberta uma deliciosa espuma cremosa que ia além da borda. Depois de horas caminhando sob o sol quente, “Steve” olhou para aquilo como se fosse um verdadeiro oásis perdido – “Essa é por conta da casa. Claro, se realmente tiver idade pra beber isso “ disse a velha senhora. Sem pensar duas vezes o jovem tomou a caneca com a mão direita e virou lentamente o seu conteúdo refrescante aproveitando cada gole como se fosse o último.

Mama tinha certeza que aquele não era o seu verdadeiro nome, mas resolveu entrar no jogo para ver se ganhava um pouco mais de sua confiança e quem sabe assim, descobrisse mais alguma coisa sobre ele. Ela sabia o quanto era difícil recomeçar uma nova vida num pais que costuma desprezar latino-americanos, ela viveu isso e sempre se dispos a ajudar aqueles que como ela, um dia sonhou em vencer na América, mas ela precisava se assegurar de que estaria ajudando realmente uma boa pessoa...

Enquanto isso, ao fundo sobre o palco, os primeiros solos de guitarra já podiam ser ouvidos. As luzes foram se apagando enquanto um globo de prisma foi aceso. A platéia já impaciente urrou forte com o inicio do show. Palmas, assovios e gritos arrepiaram todos os integrantes da modesta banda. O baixo e a bateria entram na melodia poderosa do heavy metal, regido pela magia da guitarra, enquanto um pouco de água quente em um balde de gelo seco torna-se o ingrediente final para entrada de Klaus
Øllendorf, o vocalisa da banda convidada dessa noite, o Valhalla. Por detrás de uma cortina preta improvisada, um grito gutural com um forte sotaque escandinavo diz

– “Greetings América, Welcome to the Ragnarok”

6.2.07

Prólogo - Parte 02

Once Upon a Time in New Mexico 02/10




O cair da noite repentino, apanhou de surpresa o jovem alto e de constituição física considerável que caminhava solitário a beira da estrada. Seus passos eram largos e firmes, demonstrando ter pressa em chegar a seu destino. Ele trajava apenas um coturno, encoberto por uma surrada calça jeans azulada e uma camiseta regata simples, que provavelmente era da cor branca, antes de ficar completamente impregnada com a poeira da rodovia que margeava o deserto. Carregava consigo apenas uma mochila preta nas costas e um pequeno crucifixo prateado em seu pescoço.

Estava arfante, sujo e suado. A impressão que se tinha, era que ele estava caminhando por horas e horas neste mesmo ritmo frenético. Mas por que alguém em sã consciência faria isso? Ainda mais em uma estrada deserta e escura? Ele parecia preocupado, mas mesmo assim contido. De tempos em tempos, virava-se para trás como se quisesse assegurar-se de que não estava sendo seguido.

Estranhamente tudo estava parado e quieto. Quieto demais. Nem mesmo os sons dos animais noturnos se faziam presentes naquela noite de lua gibosa. Ele continuou caminhando e permaneceu assim por cerca de mais vinte minutos, até que finalmente parou. Pareceu sentir algo de diferente no ar. Mas ignorou momentaneamente seus sentidos ao avistar a uns setecentos metros a sua frente um ponto luminoso na escuridão. Correu aproximando-se para constatar se o brilho do neon vermelho e laranja com a inscrição "El Rancho Barstow" não era apenas efeito de sua permanecia sob o calor intenso do sol. Então, apertou ainda mais seus passos atraído pela luz forte do letreiro, mantendo sempre a mesma discrição e a atenção a tudo a sua volta, como se pudesse perceber algo no mais profundo da noite que mais ninguém conseguiria notar e cuidadosamente procurava não chamar sua atenção.

Sem pensar duas vezes, o jovem empurrou as portas do "saloon" e entrou no estabelecimento sem olhar para trás. Instantaneamente sentiu o choque térmico do ar quente colidindo contra seu corpo castigado pelo frio do cair da noite no deserto. Rapidamende o cheiro de álcool e principalmente do tabaco, os quais ja sentia a uma certa distância, agora começavam a queimar em seus pulmões devido a intensidade e proximidade. O coro de vozes aplicadas nos mais distintos diálogos possíveis, vinham de todos os pontos do salão e embaralhavam seus pensamentos. Ele tentou cordenar a loucura que acometia seus sentidos a medida em que caminhava para uma mesa livre. O lugar era amplo e bem decorado, o bar estava movimentado. Uma banda parecia estar fazendo os últimos ajustes no som para começar sua apresentação. Cadeiras e mesas antigas estavam espalhadas pelo local. Tudo ali inclusive as luzes que iluminavam o recinto davam um ar retrogrado, rústico mais muito aconchegante.

Por trás do grande balcão de madeira, uma mulher corpulenta e de olhar desconfiado encarava o recém chegado, enquanto limpava uma enorme caneca de cerveja com um pedaço de pano. Percebendo a insegurança da senhora, ele cumprimentou-a com um ligeiro movimento de cabeça e sentou-se, colocando sua mochila sobre a mesa. Constancia passou então a observá-lo. Seu cabelo era castanho, curto e tinha um estilo parecido com o militar. Sua pele era morena clara e parecia estar um pouco mais queimada no rosto, ombros e braços pela intensidade do sol da tarde. Ele era alto, certamente possuía mais de um metro e oitenta e tinha um físico atlético não muito freqüente para rapazes da sua idade. Seus olhos castanhos claros tinham um ar sério e ao mesmo tempo preocupado. Deveria ter aproximadamente dezenove anos, mais pelo seu porte e expressão, passaria facilmente por mais de vinte e um. Pela sua experiência de mais de quarenta anos de bar, certamente era mais um latino-americano ilegal encrencado com a imigração, isso na melhor das hipóteses...

Imediatamente ela foi até a mesa, puxou uma cadeira em frente a ele e sentou-se.

Prólogo - Parte 01

Once Upon a Time in New Mexico 01/10




Fevereiro de 1999 - Shiprock, extremo noroeste do estado do Novo México. Havia sido um dia quente, mas o sol se despedia aos poucos em um intenso crepúsculo alaranjado. A poeira revoava livremente sobre a pista vazia da "Highway Near". Parecia não haver mais nada ao alcance dos olhos além das rochas e do infindável terreno árido, a não ser pelo pequeno “barstow” na beira da estrada que se perdia no horizonte.

Sua fachada rústica trazia a sensação aos visitantes de estar diante de um verdadeiro "Saloon" retirado de um filme de faroeste. O velho "Best Western El Rancho Bar" era o mesmo desde sua fundação há décadas. Uma pequena mão de tinta na fachada, algumas alterações na parte hidráulica, na fiação e um enorme letreiro com o nome do estabelecimento na beira da estrada, foram as únicas modificações relevantes feitas ali nos últimos 50 anos. O que não deixava o estabelecimento menos aconchegante por dentro, pelo contrário, embora sua mobília fosse antiga, ela permanecia intacta ao tempo, dando ao lugar um ar nostálgico singular. Isso somente foi possível graças ao imenso cuidado que a simpática senhora conhecida como Constancia, atual proprietária e neta herdeira do fundador do bar, tinha para com o “saloon”.

Descendente de mexicanos, ela era uma mulher na casa dos sessenta anos, de traços marcantes, que revelavam a primeira vista seu sangue latino. Seus cabelos já foram de um tom negro intenso, mas hoje aqueles que ainda lhe restam, são cobertos pelos fios predominantemente brancos,
seus olhos também eram escuros, grandes e serenos, seus braços e corpo eram fortes, típicos de quem já havia dado a luz. Era desconfiada, cautelosa e às vezes ríspida com estranhos, mais se tornava uma verdadeira mãe, para seus amigos e mais assíduos visitantes. Estava sempre alegre e disposta a conceder conselhos. Mulher vivida e experiente, Constancia não se deixava abater por qualquer coisa e não se permitia transparecer as outras pessoas, o imenso vazio que sentia, dia após dia naquele bar, sozinha na beira da estrada.

Ela jamais reclamou abertamente dessa situação, talvez porque o “El Rancho” tenha sido tudo que a vida permitiu com que ela ficasse. Seu marido, um ex-caminhoneiro e seu filho de apenas dezenove anos, haviam morrido a alguns anos atrás em um acidente automobilístico. Sim, ela sentia a falta deles, todos os dias, do fundo de seu coração, mais Constancia permanecia ali, talvez esperando pelo milagre de vê-los entrar mais uma vez pela porta de madeira rústica, como sempre havia sido durante os trinta e oito anos de casada, como foi da primeira vez em que se conheceram, ali mesmo, entre uma parada ou outra das entregas daquele que seria seu marido, o bom e velho Ruben.

Mas enganam-se os incautos que a julgam uma presa fáci, simplesmente por estar num lugar relativamente inóspito. A Sra. Cortez estava longe de ser uma mulher indefesa. A “colt” sob a caixa registradora e a espingarda na parede atrás do balcão eram apenas um aviso para aqueles que ainda não a conheciam. "Precaução nunca é pouca e acreditem, um pouco de pólvora nas nádegas de arruaceiros é um santo remédio", é o que ela sempre diz ao lustrar a bela espingarda de caça. Para os curiosos e engraçadinhos que a questionavam sobre
a utilidade da enorme arma na parede, ou sobre a sua habilidade no manejo da mesma, ela costuma responder com um sorriso largo no rosto: – Filho, esta é uma calibre 20, compacta, leve e de rápido manejo, é ideal para tiros a curta distância sobre alvos em deslocamento consideravelmente veloz, como as codornas, caminhoneiros sem vergonha e curiosos que acham que vão criar confusão no meu bar e sair ilesos. Mais se você é somente um amante da caça como eu e quer pegar algo menor a curta distância, eu aconselharia ao invés desta, uma calibre 36, como a que eu escondo debaixo do meu avental - Então com um irônico piscar de um olho só, ela dá as costas e sai gargalhando por dentro, deixando a grande maioria de seus ouvintes atônitos ou no minimo mais precavidos...

O dia ja estava no fim, e os últimos raios de luz desapareciam dando lugar as primeiras estrelas. Essa noite prometia ser mais movimentada do que os outros dias da semana. Como sempre, haviam alguns caminhoneiros descansando para prosseguir viagem, mais a maior parte dos clientes de hoje, viriam para um pequeno show que Constancia havia contratado. Tratava-se de uma pequena banda de heavy metal norueguesa chamada; Valhalla. Embora esse não fosse nem de longe seu estilo de música preferido, ela sabia de cor e salteado que esse era o tipo de “barulho” que atraia motoqueiros, jovens viajantes e potenciais consumidores de cerveja da região. Certamente essa ia ser uma noite daquelas.

Nem mesmo ela imaginava o quanto...

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