6.2.07

Prólogo - Parte 01

Once Upon a Time in New Mexico 01/10




Fevereiro de 1999 - Shiprock, extremo noroeste do estado do Novo México. Havia sido um dia quente, mas o sol se despedia aos poucos em um intenso crepúsculo alaranjado. A poeira revoava livremente sobre a pista vazia da "Highway Near". Parecia não haver mais nada ao alcance dos olhos além das rochas e do infindável terreno árido, a não ser pelo pequeno “barstow” na beira da estrada que se perdia no horizonte.

Sua fachada rústica trazia a sensação aos visitantes de estar diante de um verdadeiro "Saloon" retirado de um filme de faroeste. O velho "Best Western El Rancho Bar" era o mesmo desde sua fundação há décadas. Uma pequena mão de tinta na fachada, algumas alterações na parte hidráulica, na fiação e um enorme letreiro com o nome do estabelecimento na beira da estrada, foram as únicas modificações relevantes feitas ali nos últimos 50 anos. O que não deixava o estabelecimento menos aconchegante por dentro, pelo contrário, embora sua mobília fosse antiga, ela permanecia intacta ao tempo, dando ao lugar um ar nostálgico singular. Isso somente foi possível graças ao imenso cuidado que a simpática senhora conhecida como Constancia, atual proprietária e neta herdeira do fundador do bar, tinha para com o “saloon”.

Descendente de mexicanos, ela era uma mulher na casa dos sessenta anos, de traços marcantes, que revelavam a primeira vista seu sangue latino. Seus cabelos já foram de um tom negro intenso, mas hoje aqueles que ainda lhe restam, são cobertos pelos fios predominantemente brancos,
seus olhos também eram escuros, grandes e serenos, seus braços e corpo eram fortes, típicos de quem já havia dado a luz. Era desconfiada, cautelosa e às vezes ríspida com estranhos, mais se tornava uma verdadeira mãe, para seus amigos e mais assíduos visitantes. Estava sempre alegre e disposta a conceder conselhos. Mulher vivida e experiente, Constancia não se deixava abater por qualquer coisa e não se permitia transparecer as outras pessoas, o imenso vazio que sentia, dia após dia naquele bar, sozinha na beira da estrada.

Ela jamais reclamou abertamente dessa situação, talvez porque o “El Rancho” tenha sido tudo que a vida permitiu com que ela ficasse. Seu marido, um ex-caminhoneiro e seu filho de apenas dezenove anos, haviam morrido a alguns anos atrás em um acidente automobilístico. Sim, ela sentia a falta deles, todos os dias, do fundo de seu coração, mais Constancia permanecia ali, talvez esperando pelo milagre de vê-los entrar mais uma vez pela porta de madeira rústica, como sempre havia sido durante os trinta e oito anos de casada, como foi da primeira vez em que se conheceram, ali mesmo, entre uma parada ou outra das entregas daquele que seria seu marido, o bom e velho Ruben.

Mas enganam-se os incautos que a julgam uma presa fáci, simplesmente por estar num lugar relativamente inóspito. A Sra. Cortez estava longe de ser uma mulher indefesa. A “colt” sob a caixa registradora e a espingarda na parede atrás do balcão eram apenas um aviso para aqueles que ainda não a conheciam. "Precaução nunca é pouca e acreditem, um pouco de pólvora nas nádegas de arruaceiros é um santo remédio", é o que ela sempre diz ao lustrar a bela espingarda de caça. Para os curiosos e engraçadinhos que a questionavam sobre
a utilidade da enorme arma na parede, ou sobre a sua habilidade no manejo da mesma, ela costuma responder com um sorriso largo no rosto: – Filho, esta é uma calibre 20, compacta, leve e de rápido manejo, é ideal para tiros a curta distância sobre alvos em deslocamento consideravelmente veloz, como as codornas, caminhoneiros sem vergonha e curiosos que acham que vão criar confusão no meu bar e sair ilesos. Mais se você é somente um amante da caça como eu e quer pegar algo menor a curta distância, eu aconselharia ao invés desta, uma calibre 36, como a que eu escondo debaixo do meu avental - Então com um irônico piscar de um olho só, ela dá as costas e sai gargalhando por dentro, deixando a grande maioria de seus ouvintes atônitos ou no minimo mais precavidos...

O dia ja estava no fim, e os últimos raios de luz desapareciam dando lugar as primeiras estrelas. Essa noite prometia ser mais movimentada do que os outros dias da semana. Como sempre, haviam alguns caminhoneiros descansando para prosseguir viagem, mais a maior parte dos clientes de hoje, viriam para um pequeno show que Constancia havia contratado. Tratava-se de uma pequena banda de heavy metal norueguesa chamada; Valhalla. Embora esse não fosse nem de longe seu estilo de música preferido, ela sabia de cor e salteado que esse era o tipo de “barulho” que atraia motoqueiros, jovens viajantes e potenciais consumidores de cerveja da região. Certamente essa ia ser uma noite daquelas.

Nem mesmo ela imaginava o quanto...

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