13.2.07

Prólogo - Parte 06

Once Upon a Time in New Mexico 06/10




A velha mexicana ainda tentava entender o motivo do jovem Steve ter saído tão abruptamente de seu estabelecimento, mesmo depois dela ter despendido tanta atenção a ele. Por um instante achou ter dito algo que poderia tê-lo ofendido ou irritado, mais o que poderia ter sido?

Seus pensamentos estavam distantes, tentavam achar uma razão para aquela atitude, ate que ao passar despretensiosamente seus olhos pelo salão, percebeu os primeiros sinais de problemas a sua volta.

No palco, o vocalista da banda contratada parecia de longe não estar nos seus melhores dias, a impressão que se tinha, era que estava completamente drogado. Havia uma mistura de pavor e descrença nos olhos do rapaz, como se estivesse tendo uma alucinação. “Mama” imediatamente pensou em fazer algo, estava preocupada não só com a saúde do rapaz, mas com a integridade de seu patrimônio. Ela sabia muito bem do que clientes bêbados e insatisfeitos eram capazes, então mais do que depressa, levantou-se decidida a interromper a apresentação.

Mas infelizmente tudo aconteceu muito rápido.

Quase que em câmera lenta, ela observou os movimentos do cantor tornarem-se desequilibrados, suas pernas pareciam não o obedecer mais, até que escorado no suporte do microfone, regurgitou na platéia.

Foi o suficiente para transformar aquele salão num verdadeiro campo de guerra. Em questão de segundos, a confusão tinha tomado proporções catastróficas. Mesas e cadeiras de mais de cinqüenta anos, conservadas por ela como relíquias, transformavam-se em armas nas mãos de homens e mulheres mais exaltados. Copos, garrafas e vidraças, estraçalhavam-se em todas as direções e aos poucos, o desespero passou a dominar Constancia. Tudo que lhe havia restado de valor nesta vida, estava dentro daquele bar. Suas recordações, seu passado, sua historia. Tudo estava sendo destruído diante dos seus olhos.

Sem controlar as lágrimas e com um imenso nó na garganta, ela partiu disposta a acabar de uma vez por todas com aquela situação. Correu o máximo que pode na direção do balcão, tentando alcançar desesperadamente a espingarda na parede. A distância de pouco mais de quatro metros que a separava da arma, pareceram mais de quarenta quilômetros, enquanto ela se esquivava dos focos de briga em seu caminho e dos escombros que cruzavam pelo salão. Ao se aproximar, mais do que depressa, passou por debaixo do biombo, e seguiu direto pelo estreito corredor, até chegar debaixo do exato lugar onde a espingarda estava. Ou melhor, deveria estar. Sem acreditar nos seus olhos, ela observava a parede vazia, apenas com o suporte onde a arma repousava. Seu coração bateu mais forte, por alguns instantes faltou-lhe o ar. Com uma mão sobre seu peito e a outra apoiada no balcão, ela tentou não deixar a situação dominá-la. Respirou fundo algumas vezes, tentando espantar o pânico e passou a procurar o destino de seu rifle de caça.

Violência, sangue e destruição. Era tudo o que ela via por onde quer que passasse os olhos. Embora o tumulto fosse grande, não demorou para que ela o encontrasse. Avistou a poucos metros dela, também do lado de dentro do balcão. Estava em posse de um jovem muito alto, branco, com os cabelos castanhos e arrepiados. O destino da bala parecia certo, a cabeça do vocalista da banda. Antes que o pior acontecesse e sem pensar nas conseqüências, Constancia se atirou contra o jovem, quando este engatilhou a espingarda e fez menção em apertar o gatilho.

O estrondo do tiro soou como um toque de recolher. Tomadas pelo pânico, dezenas de pessoas correram em direção a saída. Rapidamente uma multidão se formou em torno da porta, onde todos digladiavam entre si buscando passar para o lado de fora o mais rápido o quanto fosse possível. Ninguém parou para observar de quem veio ou para onde foi o disparo. O instinto de sobrevivência falou mais alto e no ápice do desespero, janelas eram destruídas e usadas como rota de fuga para os mais apavorados.

O jovem atirador irritou-se por ter sido interrompido pela velha, que com todas as forças ainda lutava para tirar a arma de suas mãos. Sem o mínimo de piedade, ele acertou uma violenta cabeçada no rosto de Constancia, que instantaneamente amoleceu e apenas viu o cabo da espingarda vindo em direção a sua cabeça antes de tudo escurecer...

Novamente ele empulhou a arma apontando na direção de Klaus, que assustado - e aparentemente alheio a tudo que acontecia a sua volta - se arrastava tentando se esconder atrás do pano preto improvisado no palco, onde ele tinha começado sua apresentação. Com o vocalista na mira e indefeso, ele somente exitou apertar o gatilho, quando viu mais três de seus amigos se aproximando do cantor. Munidos de garrafas e pedaços de madeira, eles finalmente tinham se desvencilhado da multidão, para “dar aquele maldito drogado europeu o que ele merecia”. Eram quatro contra um. A situação parecia obvia.

Klaus estava ferrado...

Mas nenhum de seus algozes contava com o rapaz alto, de traços latinos, que havia permanecido mesmo quando a lógica sugeria uma atitude menos heróica em prol de sua própria segurança. Ele presenciou toda brutalidade e falta de respeito para com a dona do bar. Embora ele a conhecesse há poucos minutos, ela havia deixado bem claro o que aquele estabelecimento significava em sua vida. Não foram muitas as palavras, mais foram suficientes para que ele pudesse perceber, que o que estava sendo destruído e espalhado pelo chão, era muito mais do que madeira ou vidro, eram vestígios de uma vida inteira...

Preciosas lembranças...

Sem elas perdemos nosso rumo, nos esquecemos
quem realmente somos e de onde viemos .Assim como a velha senhora e seu "saloon", as lembranças eram as únicas coisas que ainda restavam na vida de Steve. Eram elas que o definiam como pessoa e mantinham suas forças para continar em frente.

Assistir uma mulher tão boa como Constancia perder tudo isso de uma forma tão brutal e inconseqüente, fez com que uma enorme chama se acendesse em seu peito. Ela rapidamente se alastrou e passou a queimar e arder cada vez mais forte clamando por justiça. Para o azar do rapaz armado e seus companheiros, Steve estava ali e estava furioso...

Ele lutou bravamente contra a nuvem rubra de fúria que tentou cobrir seus sentidos, resistiu como um herói contra a compulsão selvagem de retribuir em dobro toda crueldade despendida contra aquela senhora indefesa. Ele até hoje não sabe muito bem o que realmente aconteceu da primeira vez em que se deixou levar por seja lá o que fosse esse “impulso”, mas ele ainda carrega dentro de si a dor das conseqüências daquele dia.

Mas hoje era diferente, essa “força” era necessária e ele mais do que em qualquer outra situação "a desejava".

Naquele noite, sua maldição se tornaria seu poder. Ele não poderia ficar passivo diante daquela situação. Algo dentro dele o impelia a fazer o que era certo, mas ao mesmo tempo, ele não desejava perder o controle novamente. Consciente disso, concentrou-se tentando evitar que a raiva atrapalhasse seu raciocínio. Permitiu que aquela chama que ardia em seu peito, se alastrasse por cada parte do seu ser. Então subitamente, suas roupas passaram a ficar apertadas em seu corpo a medida em que ele começou a crescer. Seus músculos tornaram-se rígidos e definidos, seus braços estavam cobertos por longos e esparsos pelos negross e seus olhos agora tinham um tom azul muito claro, próximo ao branco. Sem sombra de duvida, eles eram a parte mais assustadora da expressão bestial que ele acabara de assumir, com caninos afiados e leves traços lupinos...

Por alguns instantes, ele estudou seu alvo e antes que ele pudesse ser percebido, saltou surpreendentemente por cima do balcão e aterrissou fincando o que pareciam ser mais garras do que unhas, na nuca do jovem armado. Foi um golpe de sorte certeiro. Pego de surpresa, o atirador deixou que a arma caísse de suas mãos e em segundos, passou de caçador para caça.

Estava completamente imobilizado, de bruços e a mercê de Steve, que o mantinha preso com os joelhos firmes em suas costas e pressionando seu rosto contra o chão. Ele pode ver os primeiros fios de sangue brotando e começando a escorrer pelo pescoço do rapaz, devido a força com que cravou suas garras na carne dele. Seu coração estava acelerado, suas veias latejavam de excitação ao sentir sua presa tão próxima, dominada e exalando o inconfundível aroma que o medo produz. Steve observou por alguns instantes o desespero do rapaz, que se debatia tentando alcançar a espingarda com uma das mãos. Então com o mesmo requinte de crueldade que ele viu Constancia ser atingida, ele retribuiu ao seu agressor. Sem ter uma noção exata de sua força, Steve largou o pescoço e segurou firme em um tufo de cabelo de sua vitima e mesmo não sendo sua intenção, suas unhas chegaram a perfurar o couro cabeludo do rapaz.

O jovem imobilizado, pensou em gritar, pedir ajuda, mais seu orgulho não permitiu, achou realmente que daria conta do recado. Estava apenas ganhando tempo até alcançar a arma - “Esse cara não sabe com quem esta se metendo” – Repetia para si mesmo. De tanto tatear, realmente ele chegou a tocar com um dos dedos na espingarda, mais no exato momento em que sentiu o frio do aço, foi erguido pelos próprios cabelos e em seguida teve seu rosto lançado violentamente contra o piso. Uma, duas, três vezes. Sua consciência aos poucos foi se esvaindo, mas antes que perdesse completamente os sentidos, sentiu seu corpo sendo virado e enfim pode olhar nos olhos de seu oponente. Sua expressão imediatamente refletiu seu espanto. Ele era enorme, tinha traços caninos e terríveis olhos azuis, claros e frios como o gelo. Pensou estar louco, mais era exatamente isso que estava diante de seus olhos. Um desespero primordial e inexplicável passou a tomar conta de sua mente.

Sem ao menos ter tempo para que pudesse colocar em ordem seus pensamentos, “a criatura” agarrou-o como se fosse feito de papel pelo pescoço e com sua mão esquerda, ergueu-o acima da altura da cabeça com uma força sobrenatural. Assustado e sem forças para reagir, pode apenas observar de forma passiva ele lentamente erguer para trás o braço direito com o punho cerrado, ameaçando desferir o soco que certamente terminaria o confronto. Mas antes de nocauteá-lo, ele olhou em seus olhos de uma forma que congelou sua espinha e vociferou em um tom grave, quase que inumano – "Isso é pela velha" – Apenas o medo que sentiu naquele momento o teria feito perder a consciência, mas para sua infelicidade isso não aconteceu. A última coisa que viu, foi a mão da fera, erguida e fechada de forma firme, vindo em direção de seu rosto estraçalhando seus dentes. Steve esperou pacientemente até que os olhos de seu inimigo se fechassem, para só então lançá-lo como um saco de estrume no chão.

Agora só faltavam três...

Pisando sobre o corpo do atirador completamente inconsciente, ele caminhou em direção ao balcão e usando apenas uma das mãos, pulou para o outro lado. O pequeno ruído de vidro se estilhaçando na sola de seu coturno era só um aviso para os outros, que ele estava chegando para terminar de uma vez por todas aquilo que havia começado...

2 comentários:

Anónimo disse...

Uaaaaau cara!!!!!! muito looooko!!!!continua ae...

Anónimo disse...

hahahaa....
gostei gosteiiiii!!!!!!!

Poha pride,nitidamente nos seus agradecimentos eu pudi ver a HERANÇA FIANNA!

haha..tu nun muda!

Abra

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