9.2.07

Prólogo - Parte 05

Once Upon a Time in New Mexico 05/10




Desde os seus quinze anos, quando penhorou o forno de microondas de sua avó para comprar sua primeira guitarra elétrica, Klaus
Øllendorf persegue o sucesso.

Ele soube o que queria ser pelo resto de sua vida após ouvir "The Number of The Beast", interpretada pelo então estreante Bruce Dickinson, enquanto passava em frente a uma loja de discos que ficava a quarteirões de sua casa. Foi paixão a primeira distorção. Na semana seguinte em que se recuperou da surra que levou de seu pai pela penhora, ele se juntou com amigos que como ele curtiam Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath, Judas Priest, entre vários outros ícones do heavy metal e formou sua primeira banda, o Mjolnir. Passaram-se longos oito anos desse dia até hoje, mais ele continua sendo o mesmo jovem rebelde e irresponsável. Apaixonado pelo som pesado, repleto de virtuosos solos de guitarra e letras inspiradas nos velhos contos “asgardianos” contados pelo seu avô durante sua infância.

Tocar fora da Noruega, sua terra natal, era não só para ele, mais como para todos de sua banda, a realização de um sonho. Finalmente estar ali, no berço do rock, dando o primeiro passo “rumo ao sucesso”, era o ápice de suas vidas e isso deveria ser comemorado. E foi, durante os últimos dez dias, todos eles regados a muita vodka, sexo, drogas e é claro, rock in roll. Quando perceberam que todas suas economias haviam desaparecido em pouco menos de duas semanas e só lhes restava o carro, o trailer onde dormiam e seus instrumentos. Klaus e seus amigos trataram de arrumar um lugar para tocar. Foi assim que eles chegaram ao El Rancho.

A casa estava ficando cheia. Eric, Harald e Svein cuidavam do som, enquanto Øllendorf se concentrava em seu ritual particular antes da apresentação. Normalmente além de exercícios específicos para suas cordas vocais ele sempre costumava tomar duas doses de vodka para “aquecê-las”. Hoje não poderia ser diferente, mas como tratava-se de uma noite de "estréia", Klaus tomou três só para garantir.

A medida em que o tempo foi passando, sua ansiedade também aumentava. Para piorar, alguma coisa parecia não estar dando certo com a parte elétrica na instalação dos instrumentos. Seus três amigos iam e vinham pelo salão, que cada vez mais estava ocupado por pessoas que aguardavam pelo inicio do show, com metros e mais metros de fios enrolados nos ombros, discutindo sobre tomadas, voltagens e extensões. Para aliviar a tensão, Klaus tomou algumas “margueritas” – contem duas ou três - e experimentou algumas doses da famosa tequila mexicana da “Mama Constancia”. Seis para ser exato.

“Dádiva dos deuses”, ele dizia - Sempre funcionava. Não demorou para que a mistura fizesse efeito. Logo se sentiu mais leve, solto e desinibido. Desceu do palco, conversou com o publico, riu, flertou e bebeu mais um pouco de cerveja.

“Pouco” é uma mera forma de expressão irônica...

Quando enfim tudo estava pronto e todos da banda demonstravam estar a postos, Klaus despediu-se de suas “novas amigas” e subiu cambaleante no palco. Concentrou-se apenas em ficar de pé por de trás do pano preto improvisado. Seus amigos de imediato perceberam o estado do vocalista e ao verem a multidão já impaciente, entraram numa onda conjunta de desespero. Afinal, eles precisavam muito daquele dinheiro. Svein mais do que depressa, se levantou da bateria e correu até uma das atendentes do bar implorando por um copo de “açúcar com um pouco de água”, torcendo com todas as forças para que a glicose cortasse um pouco o efeito do álcool. Harald foi para traz do pano e não pensou duas vezes quando derrubou sobre ele um balde de água e gelo. A todo momento ele o esbofeteava para que ele não caísse no sono. Eric parecia um corredor olímpico quando foi e voltou ao trailer para pegar outro molho de roupas para trocá-lo. Sem nem mesmo olhar para Klaus e Harald, ele jogou a trouxa de roupa na mão do baixista e imediatamente foi para frente do palco. As luzes se apagaram e o globo de prisma se acendeu. De improviso, começou um solo de guitarra para entreter o público e ganhar um pouco mais de tempo. Alguns minutos depois, Svein e Harald seguiram para seus postos, após se certificarem que o cantor dava sinais de melhora.

Quando o baixo e a bateria entraram na melodia frenética da guitarra, o vapor de gelo seco subiu e enfim chegava a hora da deixa na musica para que Klaus entrasse, todos fecharam os olhos pedindo para tudo o que fosse mais sagrado, para que o vocalista fizesse sua parte. Então com um belo gutural ele levantou a platéia e fez com que seus companheiros enfim respirassem aliviados. O álcool pareceu não afetá-lo de inicio. Tudo saiu perfeito durante a interpretação de “Welcome to the Raganarok”, e nas duas músicas seguintes. Mas na canção numero quatro, “In The Claws of Fenrir”, Klaus deu os primeiros sinais de não estar passando bem. Seus olhos pareciam estar sem foco, seus movimentos começaram a se tornar mais lentos e sua voz na melodia tornou-se descompassada. Eric, experiente e habilidoso, colocou a guitarra em evidencia com mais um solo destruidor e o publico nem sequer percebeu a recaída do vocalista, pelo contrario, urravam e pulavam como nunca no salão. Svein sem perder o ritmo, observava impotente seu companheiro esfregando insistentemente as mãos nos olhos como se quisesse apagar a força alguma imagem gravada em sua retina. Parecia assustado, olhava para tudo a sua volta desordenadamente como se estivesse cercado de perigo.

Definitivamente havia algo de muito errado com ele...

E por mais que todos da banda alimentassem a esperança de que fosse apenas um mal estar passageiro, a tragédia anunciada não demorou para se concretizar. Øllendorf foi subitamente tomado por uma forte sensação de vertigem, seguida de enjôo e dor intensa na região do abdômen. Cambaleou para a beira do palco com uma das mãos na cabeça e a outra se escorando no suporte do microfone, pedindo para que aquela sensação fosse embora logo. Tudo em sua volta parecia estar girando como um carrosel macabro, a dor era intensa. Sem forças para se conter, ele apenas sentiu o liquido quente queimando sua garganta a cima, terminando por regurgitar sobre uma telespectadora próxima a ele. Imediatamente um rapaz que parecia ser o namorado dela, agarrou firme nos seus tornozelos e o puxou, fazendo-o cair violentamente no chão. Com o tripé ainda firme em sua mão, Klaus afundou com toda sua força a base do suporte de metal na cara do seu agressor. O microfone voou e caiu próximo a caixa de som fazendo que uma microfonia aguda e intensa tomasse conta do recinto. Inerte no chão, o rapaz sangrava muito, parecia estar completamente desacordado, enquanto a garota toda suja, gritava a plenos pulmões para que ajudassem o seu namorado. O vocalista ainda zonzo, tentava se levantar, enquanto seus companheiros de banda já prevendo o pior, tratavam de pegar o que podiam entre seus instrumentos e acessórios de valor para sair logo dali. Os amigos do jovem que estavam longe do palco, quando perceberam o que a havia acontecido, correram como uma manada de búfalos em direção a banda. No meio do caminho, esbarraram em um motoqueiro bêbado que não gostou nada do choque, um caminhoneiro também não muito sóbrio tomou as dores. Uma confusão de proporções gigantescas deu-se inicio.


1 comentários:

Anónimo disse...

Caralho, Pride, muito Bala, cara!continua!

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