HUNTING GROUNDS: LAS VEGAS

SEJAM BEM VINDOS AO NOSSO TERRITÓRIO, A CIDADE DO PECADO, LAS VEGAS!

LOBISOMEM: OS DESTITUÍDOS

O LOBO DEVE CAÇAR... TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER PARA COMEÇAR SUA CAMPANHA.

CAPITULO 1: ANSWERS AND CHOICES

ACOMPANHE A TRAGETÓRIA DE ORIGEM DE UMA DAS MAIORES ALCATEIAS DE VEGAS.

PRÓLOGO: ONCE UPON A TIME IN NEW MEXICO!

O PASSADO, O LADO HUMANO, A VIDA ANTES DA PRIMEIRA TRANSFORMAÇÃO!

THE STORMRIDERS: OS CAVALEIROS DA TEMPESTADE

STEVE, KLAUS, RAY, MIKE, CARMEM, PHANTOM, CONHEÇA OS INTEGRANTES DE NOSSA ALCATÉIA.

28.1.08

Prólogo - Parte 10 - Final

Once Upon a Time in New Mexico 10/10




Com um forte chute a porta lateral veio a baixo. O som das dobradiças se rompendo e da madeira rústica tocando o solo, propagou-se pela sala assim como a corrente de vento que invadiu o ambiente. A nuvem de gás que preenchia o recinto parecia ter sido rasgada ao meio, dando lugar a um corredor de ar puro. Pego de surpresa, Steve teve tempo apenas de colocar o corpo inerte de Ollendorf novamente no chão e posicionar-se com a espingarda em riste em um lugar relativamente privilegiado atrás do balcão. O vulto de apenas um invasor apareceu sob a luz pálida da lua, a silhueta inconfundívelmente feminina, de cabelos extremamente curtos e estatura baixa, cruzou o salão com passos firmes em direção a janela quebrada. Para sua surpresa do rapaz, não era a policia que havia chegado ali, era algo muito pior...

A mulher parou por alguns instantes diante dos estilhaços de vidro procurando provavelmente o corpo inerte de seu alvo e ao não encontra-lo, sorriu sarcásticamente dizendo:


-Poderíamos brincar de "esconde esconde" a madrugada inteira, mas em poucos minutos a policia deve estar aqui... Então vamos facilitar as coisas para nós dois, vamos pular a parte dos "porques", do engalfinhamento e outros tipos de dilacerações e vamos sair daqui numa boa... Assim evitamos ferimentos desnecessários e todos ficamos felizes e satisfeitos, o que me diz?

A resposta de Steve foi uma bala bem colocada na testa da desgraçada.

Ele lembrava bem dela. A alguns dias atrás, antes de todo esse pesadelo começar. Baixa, bonita, traços indígenas, provavelmente da tribo navajo. Cabelos negros bem curtos, corpo bem definido e olhar desafiador. No inicio ele achou que ela "tava dando mole", mas ele também cogitou a hipótese de que talvez fosse apenas o excesso de confiança que o álcool produz lhe pregando uma peça. O fato era que o tempo passava e ela não tirava os olhos dele. A casa noturna estava fervendo naquela noite e desde que ele havia notado o "possível interesse" da garota, ela já tinha dispensado uns quatro rapazes de aparência considerável que tentaram alguma aproximação. Steve conversava e trocava sorrisos com outras duas garotas do seu grupo de mochileiros, mas como qualquer homem solteiro que se preze, mesmo assim ele ainda conseguia se questionar se valia a pena trocar o papo que estava dando certo, pelo risco de ser o quinto a levar um não da mulher misteriosa da mesa do canto. Havia algo no olhar dela que realmente instigava sua curiosidade e do jeito que as coisas estavam indo, ele sentia que destino parecia sorrir para ele naquela noite. Aquelas garotas iriam mesmo viajar com ele e o grupo de turistas por mais alguns dias, então ao seu entender, não faltariam oportunidades para "algo a três" até o fim de sua viagem. Já a pequena índia, ele poderia não ter o prazer de vê-la novamente. Foi ai que ele percebeu que não se perdoaria se permitisse que ela fosse embora sem pelo menos tentar trocar algumas palavras. Steve educadamente pediu licença para as simpáticas garotas dizendo que iria pegar uma bebida e assim o fez. Aproveitou " a viagem" para completar a coragem que faltava com uma dose de tequila. Acertou os botões e a gola de sua camiseta e enfim foi em direção a intrigante "Pocahontas Dark".


Com um sorriso discreto e dois drinks nas mãos ele seguiu para a mesa da garota, mas parecia ser tarde demais. Haviam três rapazes cercando a mesa de canto, mas ao contrário do que ele imaginou a princípio, ela pareceu incomodada pela presença deles e rapidamente levantou-se com um ar transtornado no rosto. Pelas feições fechadas que se seguiram, os rapazes passaram a falar mais ríspidamente com a garota e o maior deles visivelmente alterado, chegou a segurar um de seus pulsos. Imediatamente Steve partiu para tomar partido da situação. Alheio os seu destino, o sul americano apenas imaginou ser um rapaz que não aceitou bem o desprezo de uma bela garota e antes que ele pudesse se aproximar o suficiente para intervir, ela por si só conseguiu se desvencilhar e correu para o lado de fora.
Como qualquer rapaz de bem que testemunhasse tal incidente, ele a seguiu para ver se estava tudo certo ou se ela precisava de alguma ajuda. A moça estava curvada e ofegante escorada em um Chevelle 69 azul. Calmamente Steve se aproximou para tentar "consola-la", mas ao colocar delicadamente a mão em seu ombro ao invéz de um rosto abatido, coberto de lágrimas, ele se deparou com feições semi humanas, com dentes afiados e nítidos traços lupinos. Nesse mesmo instante a porta da casa noturna se abriu e os três rapazes correram em sua direção. Antes de qualquer reação por parte do sul americano de assimilar a situação como um todo, a garota cravou seus enormes dentes em seu braço arrancando-lhe sangue e enquanto ainda gritava de dor, ela inexplicavelmente tomou a forma de um lobo de pelo acinzentado e correu noite a dentro desaparecendo na escuridão estrada .

Foi exatamente ai que o pesadelo começou.


Completamente atônito pelo ocorrido ao invés de ajuda-lo, os três rapazes rapidamente o nocautearam e o colocaram no porta-malas do Chevelle azul. Steve acordou amarrado pelos pés e pulsos próximo a uma cabana de madeira longe da estrada, no meio do deserto do Novo México. Por dois intermináveis dias de sofrimento ele permaneceu assim; sob um sol escaldante, sendo alvo de diversas formas de tortura, sem dormir ou se alimentar direito. Segundo seus sequestradores, ele era especial e aquilo serviria para que ele fosse purificado e se tornasse mais forte quando chegasse a hora certa. Afirmavam que estavam forjando um "verdadeiro guerreiro com um coração completamente submisso" e para isso seu espírito deveria ser totalmente quebrado para que um dia enfim ele pudesse como eles, odiar plenamente e combater aqueles que assassinaram o "pai" deles.


Naquela situação inesperada, cativo, completamente alheio aos devaneios daqueles "lunaticos psicopatas", a única pessoa que ele realmente conseguia odiar era ele mesmo, por ser tão idiota ao ponto de se deixar cair num truque tão banal como aquele, com uma simples garota de isca. Ele poderia estar em uma cama confortável e na melhor das hipóteses, com duas belas mulheres lhe fazendo companhia, se tivesse dado mais credito aos "eventos cliches" que culminam em tragédias que os filmes de terror psicológico cansam de repetir nos cinemas. Por ingenuidade, cobiça, desejo e boas doses de burrice ao seu ponto de vista, ao contrario de todas suas piores expectativas ele estava ali, no limite de sua capacidade física e mental, longe de casa e sem perspectiva alguma de um final feliz.

No anoitecer do seu segundo dia de cativeiro ele já temia pelo pior, pois além do papo maluco de se tornar um "campeão de uma causa" e das agressões físicas constantes, eles não comentaram sequer uma vez sobre um possível resgate, acordo ou coisa parecida. Steve já perdia as esperanças de se ver novamente livre para contemplar o sol nascer de novo, temendo estar metido em algo pior do que um simples sequestro como; contrabando de orgãos, sacrifício humano para alguma seita satânica ou fetiche de um bando assassinos sádicos. Só lhe restava lamentar e torcer por um milagre. Ele implorou para que o libertassem e pediu ajuda a cada rosto diferente que via diante de si naquele local, mais era tudo em vão. Steve chegou a ver mais três homens além daqueles que o haviam capturado mas não havia visto ou ouvido a voz da desgraçada que o havia enganado. Dentro dele ardia o desejo de olhar mais uma vez nos olhos daquela vagabunda e perguntar "por que eu?" ou "o que eu fiz para merecer isso?".


Um fio de esperança nasceu com o barulho de tiros no meio da madrugada, eles pareciam se desentender entre si, "a turma" parecia estar completa desta vez, haviam uns dez ou mais brigando entre si. Homens se transformando em lobos, lobos se transformando em monstros, Parecia um sonho surreal sob a luz da meia lua. O terror tomou conta de Steve, seu coração palpitou e ele desesperadamente desejou ter forças para fugir dali. Como uma ordem seu corpo correspondeu e começou a queimar como um vulcão prestes a explodir. Ele sentiu seus ossos estralarem enquanto cresciam junto com sua carne, moldando um ser híbrido de proporções assustadoras. Ao tentar gritar para aliviar a dor que sentia, ao invés de sua voz, ele ouviu um longo e aterrorizador uivo ecoar de sua garganta. Sua visão começou a ficar turva e avermelhada, enquanto ele ia além de seus limites forçando as cordas que o prendiam e que pouco a pouco foram se afrouxando, até por fim
arrebentarem trazendo a ele novamente a plena sensação de estar livre. Um dos sequestradores ainda tentou detê-lo, gritava desesperadamente algo como: "Ele foi manchado pelo toque de Luna", mais já era tarde demais, nada poderia para-lo naquela condição, um gigantesco lobisomem de pelos negros explodindo em fúria, querendo como nunca retribuir os maus tratos, tendo agora como combustível de sua vingança o ódio mais puro e primitivo que se pode imaginar dentro de uma só pessoa...

O que veio após isso ainda é incerto em sua memória, ele acordou a quilômetros dali num hotel simples de beira de estrada. Steve ainda sentia o gosto ferroso de sangue nos lábios, enquanto tentava racionalizar tudo que havia acontecido naqueles últimos dias. O fato de estar em uma cama macia com lençóis limpos, sugeria que tudo havia sido um sonho, mas mesmo que ele quisesse não poderia se enganar a tal ponto. "Ela me infectou, passou isso pra mim, me tornou um monstro!"; era a frase que martelava constantemente seus pensamentos. Como um choque, esses devaneios o despertaram trazendo-o de volta para realidade perturbadora que ele vivia e em um só salto ele levantou-se da cama. Vestiu a muda de roupas convenientemente deixada na beirada da cama e desceu rapidamente as escadas. Foi imediatamente para local de reservas próximo a entrada e meio ofegante pela pressa, perguntou sobre sua chegada no hotel. Segundo o dono do estabelecimento, um senhor velho, com traços indígenas, ele havia sido trazido por um caminhoneiro, que disse o ter encontrado na beira da estrada e pediu para que eles não permitissem sua saída antes dele voltar com mantimentos e um médico. Tudo pareceu ficar claro depois daquela frase e ao reparar que haviam pelo menos três homens mal encarados indo em direção a porta e que certamente ajudariam o velho a cumprir sua promessa. Talvez ele estivesse ficando paranóico, mas nada tirava a certeza de Steve, de que o velho tinha algo haver com a maldita garota. O instinto de auto preservação o dominou e de uma forma como nunca antes havia fingido, ele não se permitiu transparecer o nervosismo que o tomava pela situação, nem pelo fato de que o pesadelo parecia estar londe de acabar. Ele agradeceu os cuidados, elogiou o hotel e os serviços e com um sorriso falso, mas convincente, subiu novamente rumo ao seu quarto. Steve não queria ferir ninguém inocente, então ao cruzar com a camareira em seu andar, pediu algumas cobertas e colchas a mais, alegando estar febril. Logo que ela as entregou, o sul americano pois-se a amarra-las e desceu cuidadosamente pela janela, que não ficava muito longe do chão mas mesmo assim poderia machuca-lo na queda e a partir de então, começou sua fulga...

Uma semana se passou desde então, Steve passou a caminhar sem deixar vestígios. Não procurou conhecidos, amigos ou parentes temendo que eles fossem envolvidos ou que através desse contato eles pudessem o encontrar mais facilmente. Tentou se precaver e se antecipar a cada passo de seus algozes, mas cada vez mais sentia próxima a presença deles em seu encalço. Ele já estava se conformando com o fato de estar adiando o inevitável, mas de uma coisa ele tinha certeza, quando finalmente o reencontro acontecesse, ele não se entregaria tão facilmente.


O dia havia chegado e ali estavam eles, em papéis invertidos, frente a frente outra vez, diante daquela que segundo ele havia tornado sua vida um inferno. Um dia da caça, outro do caçador pensou ele, pois o destino agora o havia colocado em uma situação de aparente vantagem que nem no melhor dos seus sonhos ele poderia imaginar.

- OUE VOCÊ QUER DE MIM? - gritou ele sentindo seu peito disparar numa avalanche de sentimentos controversos. Todo seu medo de voltar a ser fantoche na mão de um bando de sádicos gritava para que ele acabasse logo com aquilo, em contra partida, sua consciência advogava dezenas de razões para que ele não fizesse nada que pudesse vir a se arrepender depois. Ele só queria queria entender a razão de tudo aquilo, voltar a ter uma vida normal. Porque tinha de ser ele entre tantos rapazes naquela noite o infeliz escolhido pra ser amaldiçoado?. O silencio dela fingindo estar desacordada o transtornava ainda mais, por isso ele não hesitou em atirar mais uma vez entre suas costelas para que ela soubesse que ele não estava brincando...

Apenas um sorriso saiu dos lábios dela depois de se contorcer e tossir sangue. Steve então resolveu mandar sua consciência pra "puta que o pariu" e engatilhou a arma para dar cabo da garota - "quem sabe assim eu não quebro a maldição junto" - concluiu ele já
sem paciência alguma para joguinhos e não tendo absolutamente nada a perder naquela situação. Ao fazer a simples menção de puxar o gatilho, o jovem sentiu seu tórax sendo perfurado pelo que pareciam ser quatro dardos tranquilizantes. Uma onda de raiva mesclada com decepção o inundou por ter se descuidado de sua retaguarda. Ele já devia ter imaginado. Silenciosamente um outro comparsa da maldita havia entrado pela porta dos fundos e o pegara de surpresa. Sem saída, o sul americano apelou para o ultimo recurso que tinha e começou a transformar-se no monstro que "ela o havia tornado" para enfrentar o atirador, mas antes de alcança-lo, do vão da janela, um terceiro aliado surgiu, um lobo enorme e escuro que saltou sobre suas costas o fazendo cair de bruços no chão.

Novamente o barstow foi manchado de sangue. Dentes e garras afiados como facas, eram cravados em carne e ossos sem a menor misericórdia, enquanto eles rolavam pelo chão se engalfinhando violentamente. Steve lutou o quanto pode e não facilitou sequer um segundo, mas ele não estava na plenitude de suas condições devido ao combate anterior, onde deteve o pior da fúria de Klaus. Com o auxilio do atirador e da garota que levantou-se com dificuldade, os três enfim conseguiram imobiliza-lo por tempo o suficiente para que a droga fizesse efeito...

Enquanto se debatia contra seus três algozes no final de suas forças, um último pensamento inconformado pela sua derrota ecoou no resto de consciência que lhe restava; Steve então sentiu suas forças se esvaírem aos poucos, seu corpo diminuia progressivamente e já não obedecia aos seus comandos. Uma sensação de relaxamento o envolveu profundamente até que enfim tudo escureceu...



FIM DO PRÓLOGO


Nota do Autor: A visão de Steve, um rapaz normal que derrepente se viu imerso em um mundo de trevas que ele jamais imaginou existir, seus conflitos internos e deduções alheias da "verdade que está la fora" são os temas principais desse último capítulo do prólogo de nossa campanha. Parece engraçado, mais é agora que realmente a aventura começa e que os mistérios finalmente serão revelados. A cortina de incertezas se cai e tudo enfim será desmistificado tanto para nossos heróis, como para vocês leitores que terão as respostas que tanto almejam sobre a sociedade dos lobisomens no novo World of Darkness 2.0,. Aguardem...

Mas enquanto isso...

Toda ação tem uma reação proporcional e inversa, assim como tudo tem um custo nessa vida. No ultimo post falamos sobre o kuruth uma fúria poderosa, selvagem e descontrolada que se apodera dos urathas em situações de estresse intenso. Agora falaremos sobre um ponto muito importante que muitas vezes reflete a consequência desse descontrole; a Harmonia:

Lobisomens não são humanos. Apesar de terem sido criados com morais humanas, eles não acham certas éticas justificáveis. Por exemplo, mesmo antes da Primeira Mudança um lobisomem pode considerar que roubo não seja um pecado tão grave. Afinal, se o dono da propriedade não foi forte ou esperto o suficiente para protegê-la, porque então o lobisomem não deveria tomá-la? Lobisomens também formam laços muito próximos com amigos e família, protegendo-os como um lobo faria com sua matilha. O fato de que essa afeição não é sempre compartilhada – amigos e família não são lobisomens, e podem achar o jovem incoveniente e assustador – é uma fonte constante de angústia e frustração para esses filhotes.

Depois da Primeira Mudança, um lobisomem subitamente começa a ver o mundo com outros olhos. Algumas vezes, a Mudança traz liberdade. Leis e moral humana não parecem mais apropriadas. Como podem as leis humanas de não assassinar uns aos outros se aplicar a criaturas aparentemente feitas para matar? Essa filosofia também é enganosa. Um lobisomem que sucumbe totalmente ao seu lado bestial perde a habilidade de dominá-lo. De modo a manter sua sanidade e ter alguma chance de ter preciosa paz de espírito, os Uratha devem trilhar um caminho entre animal e humano, entre espírito e carne, entre instinto e razão. Este é o caminho da Harmonia.

O credo da Harmonia reforça a necessidade de obedecer às leis que os lobisomens estabeleceram, de manter a Fúria sob controle até ela ser necessária, de honrar Luna e os totens (tanto da matilha quanto da tribo) e de sempre proteger sua matilha. Os lobisomens que seguem estas leis talvez jamais encontrem paz completa, pois ela é para sempre negada aos Renegados, mas são eles que chegam mais próximo dela. Aqueles que buscam Harmonia se aproximam do equilíbrio entre suas naturezas duplas, aceitando seus instintos ferais sem perder sua razão humana. Aqueles que não buscam Harmonia são monstros, feras assassinas que contam apenas com seus poderes de transformação e Fúria. A trilha da Harmonia não é uma de paz ou tranqüilidade – é uma trilha de aceitação do lobo e do humano, do espírito e da besta.

Assim como mortais, quando um personagem lobisomem realiza um ato de grau menor ou igual ao equivalente a sua Harmonia, o jogador rola certo número de dados para verificar se o personagem obtém sucesso e se arrepende de seu ato ou se ele fracassa e não sente nada além de satisfação pelo seu feito. Caso o personagem perca um ponto de Harmonia, ele deve rolar seu novo valor neste atributo para verificar se ele recebe uma degeneração, descritas no livro World of Darkness.

Harmonia - Transgressão - Dados rolados

10 - Não mudar de forma por mais de três dias 5 DADOS
9 - Não obter sua própria comida,
carregar arma de prata 5 DADOS
8 - Desrespeitar espírito ou Uratha de posto superior 4 DADOS
7 - Passar muito tempo sozinho;
violar voto tribal 4 DADOS
6 - Acasalar com outro Uratha;
matar humano ou lobo sem motivo 3 DADOS
5 - Matar um lobisomem no calor da batalha 3 DADOS
4 - Revelar a existência dos Uratha para um humano;
usar arma de prata contra outro lobisomem 3 DADOS
3 - Torturar inimigos ou presas;
matar um lobisomem de forma intencional ou premeditadamente 2 DADOS
2 - Caçar humanos ou lobos como alimento 2 DADOS
1 - Trair matilha;
caçar lobisomens como alimento 2 DADOS



22.11.07

Prólogo - Parte 09

Once Upon a Time in New Mexico 09/10




Steve apenas subiu a sua guarda cruzando os braços sobre a face e fechou os olhos quando sentiu a patada da fera vindo em sua direção. A força do golpe foi tão intensa, que o fez atravessar o salão e espatifar-se contra a parede de madeira rústica próxima a entrada que quase cedeu. Acima dele, os vidros da velha janela não resistiram ao impacto e se partiram em pedaços afiadíssimos, que caíram sobre ele como uma chuva de verão, castigando ainda mais o seu corpo.
Sua massa muscular estava quase ao normal, os tufos de pelo negros caiam ao chão. Sua pele formigava e seus braços latejavam intensamente de dor. O cansasso definitivamente parecia o estar vencendo e tudo o que ele mais queria naquele exato momento era fechar os olhos por alguns instantes para se recompor. Ali caido, debaixo da janela escancarada, envolto aos cacos manchados com seu sangue, sob a luz da lua minguante, ele observou seu fim se aproximando cada vez mais rápido no forma mais bestial que a morte poderia assumir...

Mas ao invés de um coro de anjos o recebendo no além vida, naquele momento crucial, ele ouviu uma violenta rajada de tiros vindos do vão que um dia foi a janela sobre sua cabeça. Sem acreditar naquele golpe de sorte do destino, Steve apenas observou o monstruoso Klaus estremecer e recuar com a saraivada de balas que massacravam seu peito. O barulho ensurdecedor da cadencia das balas, unida ao uivo agonizante do nórdico transmutado, eram
capazes de corromper a sanidade de uma pessoa menos crédula nos mistérios que margeiam nossa vã consciência. Como um choque aquilo o despertou e aproveitando-se da incrível oportunidade, o sul americano reuniu todas as forças que lhe restavam e começou a se arrastar o mais rápido que pode para longe do fogo cruzado e do raio de visão da fera, que enfim, curvava-se e dava os primeiros sinais de que iria tombar...

Klaus estava completamente ensangüentado, sua massa corpórea diminuía de forma acelerada, mas antes que Steve pudesse vê-lo cair de uma vez por todas, o que parecia ser uma bomba de fumaça estilhaçou os vidros da janela a sua direita. Por instinto ele virou-se para correr para o outro lado, mas outras duas passaram pelo vão. Ao explodirem, ele tentou cobrir o rosto com as mãos, mas não demorou para que a sensação de ardência queimasse sua laringe e fizesse com que seus olhos começassem a lacrimejar. Coberto por suor e sangue,
o efeito urticante do gás propagou-se ainda mais rapidamente em sua pele. E acredite ou não, esses ainda eram os menores de seus problemas naquele momento...

Com Klaus efetivamente derrotado, inconsciente e ao seu entender morto na forma humana, Steve enfim teve mais do que alguns segundos para poder racionalizar a situação atual e traçar o seu destino a partir de então. Pela ação organizada e prudente que acontecia, provavelmente a policia estava la fora preparada para o que "desse e viesse". O que o fez pensar que ao entrarem por aquela porta e vissem aquela cena clássica de filmes de terror adolescente, repleta de destruição, sangue, com direito a mortos, feridos e sobreviventes se contradizendo, com apenas ele
(um imigrante latino lavado em sangue de um cadáver em potencial) consciente...

D
e "salvo pelo gongo" ele passaria a: "completamente fudido e condenado a cadeira elétrica por massacre", após alegar veementemente diante de um júri popular, que ele havia se transformado num "monstro hollywodiano" de quase três metros de altura apenas em "legitima defesa", e que na verdade, havia sido o "outro lobisomem" o autor de todo aquele estrago. Realmente seria uma historia "bem" interessante de se ouvir e por que não dizer; "inovadora" de se afirmar sob juramento. Dava até para imaginar as transmissões ao vivo em todo mundo, seguidas de documentários sobre sua vida e depois de alguns anos, um filme com elenco "b" estreando nos cinemas a "versão sem cortes da verdade que não foi contada"

Ele tinha de qualquer forma que dar um jeito de sair
dali ...

Ciente disso, Steve prendeu a respiração e seguiu em direção a saída lateral, mas ao se aproximar, ouviu
de relance os comandos do que parecia ser o líder da ação de contenção do local e os passos de pelo menos um de seus subordinados o seguindo. Então de forma furtiva, ele seguiu para a porta dos fundos, e quando estava a metros da liberdade, notou um importante detalhe; que agora de volta a sua forma humana suas roupas haviam se desfeito em trapos e ele se encontrava completamente nú. Como um estrangeiro sem roupas, no meio do deserto, próximo ao local de um incidente de grandes proporções não é lá uma coisa muito discreta, ele recuperou o fôlego numa brecha de ar próxima a porta e de forma silenciosa, agachado-se para não ser notado, seguiu tenso na direção em que lembrava estar o corpo inconsciente do rapaz careca que ele havia derrubado a pouco. Tateando freneticamente o chão ele o encontrou e sem pensar duas vezes roubou-lhe as calças...

Enquanto rapidamente as vestia, embora o efeito do gás prejudicasse sua visão e olfato, de modo geral, ele percebeu que progressivamente seu corpo reagia e aos poucos o seu vigor natural ia voltando ao normal. A dor em suas costas causada pelo impacto havia diminuindo significativamente e já não mais o debilitava, seus músculos estavam novamente correspondendo como se estivessem descansados e foi só então que ele percebeu abismado os ferimentos profundos em seu peito se fechando e cicatrizando lentamente. Ele com certeza se estareceu, mas em meio a todos esses acontecimentos estranhos que estavam ocorrendo recentemente em sua vida, a primeira coisa que realmente veio a sua cabeça era; que nem tudo poderia estar perdido e Klaus pudesse estar vivo. Afinal, ambos aparentemente
tinham as mesmas habilidades e o que quer que estivesse acontecendo com ele, o nórdico poderia ter mais respostas. Talvez ele soubesse como ou o porque dele estar passando por tudo aquilo ou quem sabe, se haveria alguma forma de controlar ou até mesmo se livrar daquela maldição...

Ele teve segundos para decidir o que fazer em seu plano desesperado de fuga e
o medo de não mais poder fazer ao escandinavo as perguntas cuja as respostas tanto o atormentavam, o fizeram agir pelo impulso. Steve correu e ainda pensando em se arrepender por aquilo, pegou a espingarda caída atrás do balcão e em seguida colocou Ollendorf em suas costas. Apartir dali ele já não sabia qual das situações era a pior; a de fugir aos tiros da policia local ou ter que carregar um homem de mais de cento e vinte quilos completamente nú em seus ombros...


Nota do Autor: Muitas pessoas me perguntaram durante as semanas que separavam os posts 8 e 9, porque Steve voltou a forma humana no meio do combate e Klaus não? A resposta é simples. O instinto de auto preservação de Steve o fez mudar para a forma Gauru, a qual o uratha entra numa espécie de frenesi mais controlado, nela ele precisa atacar algo ou alguém todas as rodadas ou no mínimo se mover na direção de um alvo visível. Manter essa forma exige muito esforço e o número de turnos por cena nessa forma é determinado pela soma do vigor básico com o instinto primitivo do personagem. Passado esse período, ele volta a forma natural ou ainda pode tentar fazer um teste para ir para alguma das outras três formas intermediárias. Já Klaus além de estar na forma híbrida como Steve, ele estava possuído pelo que chamamos na primeira língua de Kuruth...

Death Rage, Fúria de Morte, Fúria Mortal ou Kuruth, independente de como é chamado esse é o estado mais selvagem que um lobisomem pode alcançar. Nele são ignorados perigos mortais, em prol de nada além do que a satisfação de rasgar sua presa com suas garras e dentes. O uratha nesse estado assume imediatamente a forma gauru e permanece nela com direito a todos os seus benefícios até que a fúria cesse ou seja interrompida. Nela o lobisomem é compelido a destruir todos os alvos dentro de seu raio de visão, sejam aliados, inimigos ou infortunados transeuntes que estiverem na cena...

Para os uratha, a palavra Death Rage tem muitos significados, o lembrete da morte do Pai Lobo é um deles. Mas, o verdadeiro significado dela é que sucumbir ao Kuruth é uma perda da consciência semelhante à morte, onde o uratha corteja a possibilidade de morrer como uma fera enlouquecida ao invés de um guerreiro ou caçador. Por isso cada Fúria Mortal de um lobisomem pode ser sua última.

Os seguintes estímulos disparam o estado de Kuruth durante um combate:

- Sofrer dano agravado.
- Acertar ou ser atingido por um sucesso decisivo (5 sucessos num ataque).
- Sofrer dano em um dos últimos três pontos de Health.

Mas o real horror do Kuruth é que ele pode surgir mesmo fora de situações de vida-ou-morte. Por exemplo, uma Uratha pode ser tomada pela Fúria-morte ao descobrir que seu namorado estava lhe traindo, somente para recuperar os sentidos coberta em seu sangue e vísceras. A lista seguinte detalha potenciais estímulos que podem sujeitar um lobisomem ao Kuruth quando não estiver em combate. O jogador deve fazer um teste para resistir quando receber uma provocação equivalente ao seu valor de Harmonia ou maior:

- 9 a 10 Pessoa amada/membro da matilha morto ou ferido gravemente; traído por pessoa amada/membro da matilha.
- 7 e 8 Traído por aliado
- 5 e 6 Ferido fora de combate com dano agravado; pessoa amada/membro da matilha em perigo
- 3 e 4 Humilhado ou ferido
-1 e 2 Insultado; autoridade desafiada

Sistema: O jogador deve rolar Resolve+Composture para evitar entrar em Kuruth a cada provocação recebida, seja em situação social ou de combate. A falha faz o lobisomem assumir automaticamente a forma gauru. O limite usual de rodadas para esta forma é ignorado. Dura até o fim da cena (sendo abatido ou abatendo a todos rs!). Qualquer uso de dons, disciplinas de vampiros ou magia de magos afim de influenciar o alvo do kuruth sofrem uma penalidade de -3 nas jogadas de dado.

21.11.07

Prólogo - Parte 08

Once Upon a Time in New Mexico 08/10




O uivo gutural da criatura gigantesca de pelos dourados ecoou pelo recinto e fez as paredes estremecerem, assim como a carne e os ossos de seu algoz... Completamente perplexo, o jovem de cabelos loiros na altura dos ombros permanecia estático, tentando a todo custo racionalizar aquilo que estava diante de seus olhos... Mas uma nuvem de inconformidade e negação o cercava tentando manter sua sanidade – Isso só pode ser um pesadelo – pensava repetitivamente desejando acordar de qualquer forma em algum lugar seguro...

Mais para a sua infelicidade aquilo tudo era real...

Mesmo que ambos estivessem em condições iguais nesse combate, muito provavelmente ele não levaria vantagem contra o norueguês de mais de dois metros de altura e cerca de cento e vinte quilos... Klaus estava praticamente inconsciente quando foi covardemente atacado. Seria praticamente suicídio para o jovem enfrentar o escandinavo em um mano a mano. O que dirá então, fazer frente a ele naquela situação? Em uma forma monstruosa, com quase o dobro de seu tamanho, o triplo de sua massa muscular, em um estado de irracionalidade e completo descontrole?

Antes mesmo que o pobre coitado respondesse ao instinto de virar-se e correr, as enormes garras da criatura já deslizavam sobre seu peito, rasgando sua pele, víceras e partindo os seus ossos. Ele cogitou gritar de dor ou desespero, mas antes que qualquer som fosse emitido, os fortes e afiados dentes da enorme criatura já estavam cravados por toda extensão de seu pescoço e com um só movimento sua cabeça já havia sido decapitada...

As ultimas imagens gravadas em sua retina, foram o mundo girando por alguns momentos após o impacto com solo ate por fim parar poéticamente em uma posição inclinada, mas privilegiada, de onde ele pode observar o resto de seu corpo ser completamente destruído pela enorme criatura...

.....

Enquanto isso, Steve já havia neutralizado um jovem armado, mas agora tinha sobre si a atenção de dois de seus amigos. O jovem em uma forma com traços humanos, mas com muito mais músculos e pelos do que o normal, estudou rapidamente seus oponentes enquanto caminhavam em sua direção. O maior deles, o ruivo com a cadeira na mão. Caminhava despreocupado, sorridente, completamente confiante, como se estivesse caminhando em direção ao mar em um dia ensolarado. Steve observou também os movimentos do outro, o careca que segurava um pedaço considerável de madeira que outrora fora um taco de bilhar, eles eram lentos e atrapalhados, além de que embora suas feições não demonstrassem, ele estava impregnado com um inconfundível aroma de hesitação e medo...

Então ao contrario das expectativas de ambos, Steve lançou-se logo sobre o maior deles e antes que este pudesse reagir, suas garras enterraram-se na parte superior do rosto do brutamontes, arrancando aquele sorriso imbecil e parte do seu supercílio em uma fração de segundos. Imediatamente o grandalhão largou a cadeira e levou as mãos em direção aos olhos, onde rapidamente o sangue impregnava sua vista. De forma veloz Steve aproveitou-se da situação e acertou-o novamente com um forte gancho de direita, deixando-o completamente atordoado. A luta parecia que iria ter um desfecho tão simples quanto a primeira, mais havia mais um. O latino mais sentiu do que viu o pedaço de madeira partir-se em suas costas e mesmo assim por pouco ele não conseguiu desviar de seu trajeto. Apenas um ranger de dentes para conter um grito precedeu a retaliação.

Steve virou-se emendando um forte soco cruzado que fez o rapaz cuspir um de seus incisivos. Furioso ele continuou a massacrar o rosto de seu algoz até ele perder a consciência, mas antes que pudesse desferir o golpe derradeiro, algo lacerou profundamente seu ombro. Um urro de dor explodiu de seus lábios, imediatamente sua cabeça começou a girar e sua visão enevoou devido à fúria. Ele precisou de toda sua força de vontade para não perder o controle antes de virar-se para poder encarar seu novo adversário. Ele era imenso, monstruoso, um verdadeiro demônio sob a pele de um lobo de pelos dourados manchados de sangue. Ele tinha exatamente a forma que aterrorizava seus pensamentos desde que perdeu o controle e se transformou pela primeira vez há alguns dias atrás. Desde o dia em que começou a ser perseguido... Seja lá o que for que tinha acontecido com ele naquela noite, evidentemente também havia acabado de acontecer com o rapaz que cantava no palco do barstow.

Mal houve tempo para ele poder organizar seus pensamentos antes que a criatura bestial saltasse sobre ele; babando, com a enorme mandíbula escancarada, ainda com pedaços de carne e sangue entre os dentes. Seus olhos brilhavam num tom rubro aterrorizador.

Aquele provavelmente seria o fim de qualquer ser humano e em seu lugar muitos estariam se esvaindo em medo e desespero, mas Steve não era humano e naquele momento estranhamente ao inves de pavor, ele estava tomado pela mais pura e primitiva fúria... Uma nuvem vermelha enfim cobriu por completo seus olhos obscurecendo sua visão, um som como de muitos tambores ecoaram em seu crânio, enquanto trovões pareciam estourar em seus ouvidos, No âmago de seu ser ele pode sentir um poder palpável florescer dentro de si quebrando as últimas travas que o mantinham sob controle. Uma onda de fogo e fúria fluiu pelo seu corpo, subiu pela sua garganta e explodiu na forma de um uivo primal e aterrorizador...

Steve, agora transformado na forma de um enorme "homem-lobo" de pelos negros , recebeu seu adversário com as garras em riste, não hesitando em crava-las em seu peito. O monstruoso Klaus ganiu de forma aguda pela dor, mas isso não deteve sua trajetória. Pelo impacto de seu pesado corpo, ambos foram arremessados e rolaram por metros, destruindo mesas e cadeiras pelo caminho. Por vários minutos que pareceram uma eternidade, assim eles permaneceram. Mordendo e se arranhando, rugindo e se degladiando de forma mortal, eles travavam ali no velho "barstow" uma batalha apocalíptica a qual parecia que não iria mais ter fim.

O gigante escandinavo possuído pela fúria mortal parecia ser imbatível... a cada ferimento suas forças pareciam se renovar em sua dor. Já Steve pelo contrario, a medida em que o tempo passava, estava ficando cada vez mais cansado. Seus ferimentos e músculos doiam e seus movimentos já não eram mais tão rápidos. Naquele momento ele lutava única e exclusivamente por sua vida, até o mais tolo sabia que tombar ali, diante daquela fera, significaria nunca mais ver o sol nascer de novo. O lobo sombrio também tinha a consciência de que se perecesse, todos aqueles feridos inconscientes seriam os próximos a sentir a ira da criatura descontrolada...

Mas por mais que Steve se esforçasse heroicamente além de seus limites e Klaus estivesse extremamente ferido, naquele estado ele dava a impressão de ser praticamente invencível. A cada momento a coisa parecia ir de mal a pior para o sul americano que já não conseguia acompanhar seus movimentos. E quando ele mesmo achava que nada mais poderia dar errado, a nuvem rubra que cobria seus olhos aos poucos começou a se dissipar. Lentamente ele sentiu seu corpo diminuir e aquela força mística esvaecer - Nãaao, nãaao !!! Agora nãaaao!!! - desesperou-se o jovem latino ao sentir "a magia" o abandonar enquanto a criatura de quase três metros "programada" para destruir uivou alto e longamente como se sentisse a vitória se aproximar antes de correr impiedosamente em sua direção...



Nota do Autor: Inaugurei essa sessão de notas no post 7 falando um pouco sobre os cinco augúrios dos urathas, os quais determinam sua função dentro de uma matilha. Neste post, vou dar uma descriçao básica sobre dois poderes excepcionais dos lobisomens: A incrivel capacidade de regeneraçao e a possibilidade de mudar de formas que um uratha pode assumir com suas vantagens e regras para o sistema atual.

Regeneração

Uma pessoa normal recupera um ponto de dano concussivo a cada 15 minutos; um ponto de dano letal a cada dois dias e um ponto de dano agravado por semana. Lobisomens regeneram um ponto de dano concussivo por rodada; um ponto de dano letal a cada 15 minutos. Ao custo de um ponto de essência, um Uratha pode regenerar um ponto de dano letal como ação reflexiva.

As 5 Formas

Hishu
- humano normal. A regeneração extraordinaria dos urathas também ocorre nesta forma. Atributos não se alteram.


Dalu - quase humano. Esta é a forma que Steve assume espontaneamente nos posts em que a briga começa no bar para auxiliar Constância. Ela acrescenta 15 centímetros e aproximadamente 15 a 30 kilos de massa muscular à forma hishu. Inflige delírio -4.

Força+1 Vigor+1 Manipulação-1 tamanho+1
Vitalidade+2 Deslocamento+1 +2 em testes de percepção.

Gauru - homem lobo. A forma clássica do lobisomem. Esta forma representa a fúria que reside em cada Uratha. Ela proporciona entre 60 a 90 centímetros de aumento na altura e 100 a 125 kilos de massa muscular. Nesta forma o lobisomem entra numa espécie de frenesi controlado, onde precisa atacar algo ou alguém todas as rodadas ou então se mover na direção de um alvo visível. Devido ao esforço necessário para manter o controle, um lobisomem não pode se manter na forma gauru indefinidamente, e sim por Stamina(básica)+Primal Urge rodadas por cena. Causa dano letal e recebe um dado extra de dano por garra e dois dados no dano da mordida. +3 nos testes de percepção. Ignora penalidades por ferimentos e não precisa fazer testes para evitar inconsciência.

-2 para resistir Fúria-Morte. Falha automaticamente em todos os testes sociais e mentais. Força+3 Destreza+1 Vigor+2 Tamanho+2 Vitalidade+4 iniciativa+1 Deslocamento+4 Armadura 1 corpo-a-corpo/1 balística.

Urshul - quase lobo. Forma de um lobo atroz entre um a 1,5 metros de altura e 1,80 a 2,40 metros de comprimento. Combina capacidade de combate com maior controle emocional do que a forma gauru. Inflige delírio-2.

Força+2 Destreza+2 Vigor+2 Manipulação-3 Tamanho+1 Vitalidade+3 iniciativa+2 Deslocamento+7 +3 em testes de percepção e pode causar dano letal com garras e mordida.

Urhan - lobo. Os sentidos do Uratha ficam super aguçados nessa forma.

Destreza+2 Vigor+1 Tamanho-1 Iniciativa+2 Deslocamento+5 +4 em testes de percepção e pode causar dano letal com mordida.



Sistema: Mudar de forma exige um teste de Stamina (básica, sem moficações)+Survival+Primal Urge durante uma rodada. Ao custo de um ponto de essência, não é necessário teste e a transformação é reflexiva. Retornar à forma hishu também é uma ação reflexiva e não acarreta nenhum custo.


23.3.07

Prólogo - Parte 07

Once Upon a Time in New Mexico 07/10




Nunca em sua vida, Klaus havia vivenciado uma experiência tão extraordinária como a daquela noite. Foi como se o mundo real por alguns instantes abaixasse as suas cortinas, para finalmente revelar a ele, uma realidade que até então lhe fora negada.

Sobre o palco, enquanto cantava “In The Claws of Fenrir”, a mágica que ele sempre descrevia em suas canções, realmente aconteceu, por mais incrível que isso possa parecer. Era mais do que uma alucinação, mais do que o delírio de um homem longe de estar sóbrio...

Embora assustado, ele pode ver nitidamente a profusão dos feixes de luz, que se dispersavam em todos os sentidos a partir dos grandes holofotes, mais não de uma forma normal, de uma maneira vibrante, palpável e literalmente viva. Ao se chocarem em qualquer pessoa ou objeto, elas produziam uma pequena e magnífica explosão de cores, que gerava dezenas de pontos de luz, de diversas cores e intensidades, que passavam a cair, rodopiar e piscar como se tivessem vida própria.

Debaixo das mesas ou em qualquer lugar com pouca iluminação, as sombras pareciam se mover de maneira sorrateira. Mostravam-se nitidamente incomodadas por aquela claridade. Elas permaneciam a espreita, esperando o momento certo para atacar os pequenos pontos iluminados, e a medida em que estes se aproximavam do chão, eram devorados de forma feroz e impiedosa por uma imensa onda de escuridão...

Klaus ainda confuso pelo que acabara de testemunhar, esfregava seus olhos persistentemente tentando de alguma forma despertar desse “pesadelo surreal”...

Mas ao abri-los novamente, ainda podia observar tudo ao seu redor intensamente vivo e pulsante. Desde os cabos de energia, que contraiam e expandiam como se estivessem bombeando “litros e litros” de eletricidade para alimentar toda aquela “cadeia faminta” de eletroeletrônicos, até o som das notas musicais que saiam dos enormes amplificadores, as quais inacreditavelmente, pareciam tomar por alguns instantes, a forma material do que era cantado por ele, como um verdadeiro teatro em terceira dimensão que passeava por cima da multidão enlouquecida e segundos depois, desapareciam diante de seus olhos, da mesma forma misteriosa da qual tiveram origem.

Embora o contexto e a lógica gritassem em sua mente, que tudo aquilo não passava do efeito colateral de muita bebida misturada a provavelmente algum alucinógeno que poderiam ter dado a ele antes da apresentação, algo dentro dele contradizia veementemente e de uma forma inexplicável, lhe dava a certeza absoluta de que tudo aquilo era real. Era um sentimento que de uma forma amena o confortava naquela situação, mas mesmo assim, não era o suficiente para deixa-lo menos estarrecido com tudo aquilo.

O ápice das visões aconteceu quando a plenos pulmões ele repetiu o refrão de sua canção. A caixa acústica estremeceu intensamente, como se um terremoto estivesse ali preso e quisesse sair lá de dentro. Klaus recuou temeroso e aos poucos viu surgir dela um gigantesco lobo, de olhos vermelhos intensos, que pareciam arder num mar de fúria descontrolada. Por mais que ele se negasse a acreditar, parecia ser o próprio lobo Fenris das antigas lendas, se materializando bem ali na sua frente.

Ollendorf o encarou num misto de curiosidade e espanto e esperou que assim como os outros elementos da canção ele também desaparecesse, mas diferentemente deles, Fenris não se dispersou. Pelo contrário, a cada instante ele parecia maior e cada vez mais real, graças ao coro de vozes entoando seu nome nos versos, os quais pareciam ir aos poucos o idealizando, como se o imaginário coletivo estivesse se unindo para conceber a fera mítica...

Aos poucos o monstro asgardiano ficou maior, mais forte, denso. Sobre as quatro patas, o grande lobo cinza encarava-o com seus enormes olhos cor de sangue, enquanto rosnava mostrando seus afiadíssimos dentes e de pelos eriçados, caminhava assustadoramente em sua direção.

Klaus boquiaberto pode apenas observar passivo a fera se aproximar ate a distancia de um salto e então quando nada mais parecia o abalar, o lobo o surpreendeu vociferando numa língua perdida, a qual ele jamais ouviu, mas ao mesmo tempo lhe soou nitidamente familiar:

- ASSASSINO!!! Dizia ele furioso, ASSASSINO!!! Repetiu mais uma vez

Antes mesmo que Klaus pudesse compreender completamente o significado de suas palavras, o monstro saltou impiedosamente em sua direção para um ataque o qual não haveria escapatória...

Ao invés do impacto dos dentes afiados, um assalto de odores, sons, texturas, sabores e cores o invadiu e fez com que Klaus perdesse o controle de suas funções motoras. Uma enorme vertigem o atingiu. Ele não conseguiu se conter e seu corpo em resposta a tantos estímulos o fez regurgitar. Ainda zonzo, ele sentiu seu pés sendo puxados e suas costas batendo contra o chão. Desesperado e sem saber exatamente o que o havia derrubado, instintivamente ele tentou se defender com o suporte do microfone que ainda estava em suas mãos. Com o que restava se suas forças ele lançou o objeto de metal na direção em que parecia ter sido atacado e então desabou aparentemente inconsiente no chão.

Suas vistas escureceram, um silêncio sepulcral envolveu o ambiente. Ele parecia não estar mais ali...

“Flashes” de momentos passados, acontecimentos ainda não vividos por ele, elementos de um possível futuro, tudo muito rápido, tudo muito intenso, tudo ao mesmo tempo. Aos poucos, a velocidade das informações foram diminuindo e ele se viu de uma forma onírica em um terreno árido onde haviam cinco lobos cercando outros dois, como em um sonho confuso e desconexo, os céus rapidamente escureceram e uma terrível tempestade fez com que a matilha fugisse, deixando apenas os outros dois lobos que estavam sob ataque, sozinhos a mercê do grande tornado que se anunciava no horizonte. Quando tudo parecia perdido para ambos, uma ínfima faísca surgiu da terra e gerou uma pequena chama que não se extinguia, mesmo em meio aos fortes ventos, ela começou a crescer, até se transformar numa imensa bola de fogo que ascendeu aos céus tomando o lugar do sol, dispensando as trevas e iluminando todo o ambiente...

Então novamente tudo escureceu e somente então sua consciência pareceu ir retornando aos pouco. Gritos e sons de uma imensa confusão invadiram seus ouvidos, a medida em que o tempo passava, eles iam se tornando mais nítidos. Vidros se quebrando, homens discutindo, um verdadeiro caos parecia ter dominado o ambiente. Seria essa outra alucinação?

Infelizmente não...

Ollendorf tremia, seu coração estava acelerado e sua mente completamente desorientada por um medo primitivo. Ele não sabia o que estava acontecendo naquele lugar e muito menos o que havia acontecido com ele àquela noite. Vagarosamente abriu os olhos, sua visão ainda estava turva. Pânico, correria e violência... foi isso que ele testemunhou. Imediatamente ele tentou se levantar, mas não conseguiu. Temendo por sua segurança, arrastou-se buscando encontrar abrigo além da cortina negra atrás do palco. No caminho, ele pode observar o lobo etéreo que o havia atacado se desmaterializando, uma vez que a multidão havia se dispersado, ele pareceu ter perdido suas forças e desapareceu como os outros elementos da música.

Oculto aos olhos da multidão atrás do pano escuro, ele pode enfim se deitar esperando a tontura passar. Permaneceu ali, encolhido e inerte por alguns minutos como se estivesse em estado de choque.
Mas sua paz momentânea foi violada abruptamente ao sentir um duro chute em suas costelas, que o arremessou contra a aparelhagem de som nos bastidores. Exaurido, conseguiu apenas levantar seu rosto para ver o que havia lhe acertado e viu um jovem desconhecido de cabelos loiros, na altura dos ombros, encarando-o de cima com um considerável pedaço de madeira na mão direita. Ele quis chorar mais as lagrimas não vinham, ele sabia o que iria acontecer, mais não entendia o porque. Antes de golpeá-lo violentamente nas costas, o rapaz disse algo como – “Você vai ter o que merece bacalhau!” - Com todas as forças ele tentou gritar por ajuda, mais apenas um som parecido com um uivo agudo ecoou de sua garganta. Encurralado ele arrastou-se mais uma vez buscando escapar do rapaz, mais com outro chute ele foi contido, desabando perto da pequena janela onde a luz da lua minguante iluminava o ambiente. Seu algoz ainda gargalhava alto por ouvi-lo “imitar um cachorro” enquanto apanhava.

Nunca em sua vida ele se sentiu tão confuso, impotente, humilhado, revoltado e anormalmente furioso. Esse misto de emoções foi o agente catalisador da coisa mais inacreditável que aconteceria naquela noite. Seu corpo começou a arder como se ele tivesse sido lançado dentro de um vulcão. Seu coração passou a martelar seu peito como se fosse explodir. Era como se um mar revolto de fogo o lavasse por dentro, desde o âmago do seu ser, ate seus poros. Ele sentia essa fúria explosiva fluindo e o dominando. Sua pele rasgou de dentro para fora, seus dentes cresceram e se amontoaram em sua enorme mandíbula, as suas roupas ficaram pequenas para seus músculos e se partiram como se fossem de papel. Completamente transformado numa criatura gigantesca e horrenda, híbrida entre homem e lobo, Ollendorf emitiu um som gutural o qual aquele jovem jamais havia imaginado ouvir em toda sua vida, nem mesmo na melhor e na mais ameaçadora produção holywoodiana, com a ajuda de toda tecnologia de efeitos especiais que o dinheiro pode comprar, seria possível reproduzir o terror de se ver e ouvir aquilo...

Provavelmente ninguém no mundo seria capaz de descrever o pavor deste rapaz ao presenciar a transformação de um verdadeiro lobisomem; os ossos estralando, a carne sendo moldada,
a massa muscular triplicando e sendo coberta por uma densa pelagem, os espasmos de dor, as garras rasgando o chão produzindo um agudo e estridente barulho no chão, arrepiando todos os seus pelos e por fim, o desesperador som do poderoso uivo em um tom inumano, soando quase como um trovão ecoando em seus ouvidos...

Absolutamente ninguém no mundo conseguia expressar em mais do que duas palavras o pavor de estar frente a frente com uma verdadeira maquina de guerra viva e sem controle, urrando, babando e vindo em sua direção...

E o pior de tudo...

É praticamente impossível imaginar a decepcionante sensação de que de todas as pessoas do mundo e de todos os lugares que você poderia estar numa bela noite de sexta-feira, justamente você, é o cara que esta ali, no lugar errado e na hora errada e foi o grande azarado que cruzou o caminho da "morte sobre quatro patas num dia ruim" e ela esta ali, diante dos seus olhos, prontinha para cumprir em você o seu papel nessa terra:

Destruir...



Nota do Autor: Bem pessoal, a partir deste post, vou inaugurar essa sessão de notas que trará informações explicativas referentes ao jogo o qual este conto é baseado. Muitos leitores não conhecem a fundo o novo cenário, sistema de regras e alguns termos do jogo. Por isso, sempre que se fizer necessário, colocarei junto ao texto uma nota como esta contendo informaçoes tanto para auxilia-los a entender melhor a historia, como para aqueles que esperam ansiosamente pelo lançamento do livro em portugues possam ir conhecendo passo a passo um pouco mais do werewolf the forsaken...

A nota de hoje vem revisar o post acima a fim de desmistifica-lo em termos mais simples. Klaus, assim como Steve, é um Uratha, que na primeira língua seria o proporcional para nos a: lobisomens.

Cada uratha possui um auspício, que representa uma das cinco faces do Lobo Primordial e indicará sua responsabilidade e dever dentro de sua matilha. Sempre que um uratha sofre a "Primeira Mudança" esse momento não fica marcado apenas pelo momento de transformação terrível, mas pelo breve momento de comunhão com o coro lunar relacionado à atual fase da lua que é indicado pela lua a qual ele sofreu a sua primeira transformação. Assim como as faces do Pai Lobo e as fases da lua eles são cinco:


Rahu - O Guerreiro - Lua Cheia (Full Moon)
Cahalith - O Visionário - Lua Minguante (Gibbous Moon)
Elodoth - O Juiz do Equilíbrio - Meia Lua (Quarter Moon)
Ithaeur - O Mestre Espiritual - Lua Crescente (Crescent Moon)
Irraka - O Caçador - Lua Nova (New Moon)

Como pode ser visto, Klaus é um Cahalith, pois teve sua primeira transformação sob a benção da lua minguante e o presente de Luna para todos desse auspício é a visão. A primeira mudança para aqueles nascidos sob essa lua geralmente envolve visões do imaterial - parte alucinação, parte visões do mundo espiritual (Como aconteceu com Øllendorf nesse Capítulo). Estas visões podem ser demais para um jovem e inexperiente uratha devido aos muitos estimulos sensoriais que elas infligem, sendo mais do que suficientes para fazê-los perder o controle. Por conta disso, frequentemente, o Cahalith é levado a uivar alta e longamente numa tentativa de expressar seu medo, confusão e alegria - o que pode fazer outros lobisomens encontrá-lo mais facilmente.

Renome primário do Auspício - Glória.

Especialidades - Oficios, Expressão e Persuasão.

Lista de Dons - Lua Minguante, Inspiração e Conhecimento.

Habilidade de Auspício - Sonhos Proféticos. Uma vez por estória, o jogador pode pedir ao narrador uma profecia em seu sono, fornecendo assim alguma pista sobre o que desafiará o Cahalith. O sonho é sempre velado em simbolismo, o qual o jogador deve interpretar. O Cahalith também recebe um dado em qualquer teste de Occult feito para interpretar profecias ou resolver enigmas.

Quota - "Ergam suas vozes! Rasguem o céu! Uivem sua raiva, seu desespero, sua dor e sua esperança! Cantem para Mãe Luna, e que ela saiba que seus filhos ainda são fortes!"

13.2.07

Prólogo - Parte 06

Once Upon a Time in New Mexico 06/10




A velha mexicana ainda tentava entender o motivo do jovem Steve ter saído tão abruptamente de seu estabelecimento, mesmo depois dela ter despendido tanta atenção a ele. Por um instante achou ter dito algo que poderia tê-lo ofendido ou irritado, mais o que poderia ter sido?

Seus pensamentos estavam distantes, tentavam achar uma razão para aquela atitude, ate que ao passar despretensiosamente seus olhos pelo salão, percebeu os primeiros sinais de problemas a sua volta.

No palco, o vocalista da banda contratada parecia de longe não estar nos seus melhores dias, a impressão que se tinha, era que estava completamente drogado. Havia uma mistura de pavor e descrença nos olhos do rapaz, como se estivesse tendo uma alucinação. “Mama” imediatamente pensou em fazer algo, estava preocupada não só com a saúde do rapaz, mas com a integridade de seu patrimônio. Ela sabia muito bem do que clientes bêbados e insatisfeitos eram capazes, então mais do que depressa, levantou-se decidida a interromper a apresentação.

Mas infelizmente tudo aconteceu muito rápido.

Quase que em câmera lenta, ela observou os movimentos do cantor tornarem-se desequilibrados, suas pernas pareciam não o obedecer mais, até que escorado no suporte do microfone, regurgitou na platéia.

Foi o suficiente para transformar aquele salão num verdadeiro campo de guerra. Em questão de segundos, a confusão tinha tomado proporções catastróficas. Mesas e cadeiras de mais de cinqüenta anos, conservadas por ela como relíquias, transformavam-se em armas nas mãos de homens e mulheres mais exaltados. Copos, garrafas e vidraças, estraçalhavam-se em todas as direções e aos poucos, o desespero passou a dominar Constancia. Tudo que lhe havia restado de valor nesta vida, estava dentro daquele bar. Suas recordações, seu passado, sua historia. Tudo estava sendo destruído diante dos seus olhos.

Sem controlar as lágrimas e com um imenso nó na garganta, ela partiu disposta a acabar de uma vez por todas com aquela situação. Correu o máximo que pode na direção do balcão, tentando alcançar desesperadamente a espingarda na parede. A distância de pouco mais de quatro metros que a separava da arma, pareceram mais de quarenta quilômetros, enquanto ela se esquivava dos focos de briga em seu caminho e dos escombros que cruzavam pelo salão. Ao se aproximar, mais do que depressa, passou por debaixo do biombo, e seguiu direto pelo estreito corredor, até chegar debaixo do exato lugar onde a espingarda estava. Ou melhor, deveria estar. Sem acreditar nos seus olhos, ela observava a parede vazia, apenas com o suporte onde a arma repousava. Seu coração bateu mais forte, por alguns instantes faltou-lhe o ar. Com uma mão sobre seu peito e a outra apoiada no balcão, ela tentou não deixar a situação dominá-la. Respirou fundo algumas vezes, tentando espantar o pânico e passou a procurar o destino de seu rifle de caça.

Violência, sangue e destruição. Era tudo o que ela via por onde quer que passasse os olhos. Embora o tumulto fosse grande, não demorou para que ela o encontrasse. Avistou a poucos metros dela, também do lado de dentro do balcão. Estava em posse de um jovem muito alto, branco, com os cabelos castanhos e arrepiados. O destino da bala parecia certo, a cabeça do vocalista da banda. Antes que o pior acontecesse e sem pensar nas conseqüências, Constancia se atirou contra o jovem, quando este engatilhou a espingarda e fez menção em apertar o gatilho.

O estrondo do tiro soou como um toque de recolher. Tomadas pelo pânico, dezenas de pessoas correram em direção a saída. Rapidamente uma multidão se formou em torno da porta, onde todos digladiavam entre si buscando passar para o lado de fora o mais rápido o quanto fosse possível. Ninguém parou para observar de quem veio ou para onde foi o disparo. O instinto de sobrevivência falou mais alto e no ápice do desespero, janelas eram destruídas e usadas como rota de fuga para os mais apavorados.

O jovem atirador irritou-se por ter sido interrompido pela velha, que com todas as forças ainda lutava para tirar a arma de suas mãos. Sem o mínimo de piedade, ele acertou uma violenta cabeçada no rosto de Constancia, que instantaneamente amoleceu e apenas viu o cabo da espingarda vindo em direção a sua cabeça antes de tudo escurecer...

Novamente ele empulhou a arma apontando na direção de Klaus, que assustado - e aparentemente alheio a tudo que acontecia a sua volta - se arrastava tentando se esconder atrás do pano preto improvisado no palco, onde ele tinha começado sua apresentação. Com o vocalista na mira e indefeso, ele somente exitou apertar o gatilho, quando viu mais três de seus amigos se aproximando do cantor. Munidos de garrafas e pedaços de madeira, eles finalmente tinham se desvencilhado da multidão, para “dar aquele maldito drogado europeu o que ele merecia”. Eram quatro contra um. A situação parecia obvia.

Klaus estava ferrado...

Mas nenhum de seus algozes contava com o rapaz alto, de traços latinos, que havia permanecido mesmo quando a lógica sugeria uma atitude menos heróica em prol de sua própria segurança. Ele presenciou toda brutalidade e falta de respeito para com a dona do bar. Embora ele a conhecesse há poucos minutos, ela havia deixado bem claro o que aquele estabelecimento significava em sua vida. Não foram muitas as palavras, mais foram suficientes para que ele pudesse perceber, que o que estava sendo destruído e espalhado pelo chão, era muito mais do que madeira ou vidro, eram vestígios de uma vida inteira...

Preciosas lembranças...

Sem elas perdemos nosso rumo, nos esquecemos
quem realmente somos e de onde viemos .Assim como a velha senhora e seu "saloon", as lembranças eram as únicas coisas que ainda restavam na vida de Steve. Eram elas que o definiam como pessoa e mantinham suas forças para continar em frente.

Assistir uma mulher tão boa como Constancia perder tudo isso de uma forma tão brutal e inconseqüente, fez com que uma enorme chama se acendesse em seu peito. Ela rapidamente se alastrou e passou a queimar e arder cada vez mais forte clamando por justiça. Para o azar do rapaz armado e seus companheiros, Steve estava ali e estava furioso...

Ele lutou bravamente contra a nuvem rubra de fúria que tentou cobrir seus sentidos, resistiu como um herói contra a compulsão selvagem de retribuir em dobro toda crueldade despendida contra aquela senhora indefesa. Ele até hoje não sabe muito bem o que realmente aconteceu da primeira vez em que se deixou levar por seja lá o que fosse esse “impulso”, mas ele ainda carrega dentro de si a dor das conseqüências daquele dia.

Mas hoje era diferente, essa “força” era necessária e ele mais do que em qualquer outra situação "a desejava".

Naquele noite, sua maldição se tornaria seu poder. Ele não poderia ficar passivo diante daquela situação. Algo dentro dele o impelia a fazer o que era certo, mas ao mesmo tempo, ele não desejava perder o controle novamente. Consciente disso, concentrou-se tentando evitar que a raiva atrapalhasse seu raciocínio. Permitiu que aquela chama que ardia em seu peito, se alastrasse por cada parte do seu ser. Então subitamente, suas roupas passaram a ficar apertadas em seu corpo a medida em que ele começou a crescer. Seus músculos tornaram-se rígidos e definidos, seus braços estavam cobertos por longos e esparsos pelos negross e seus olhos agora tinham um tom azul muito claro, próximo ao branco. Sem sombra de duvida, eles eram a parte mais assustadora da expressão bestial que ele acabara de assumir, com caninos afiados e leves traços lupinos...

Por alguns instantes, ele estudou seu alvo e antes que ele pudesse ser percebido, saltou surpreendentemente por cima do balcão e aterrissou fincando o que pareciam ser mais garras do que unhas, na nuca do jovem armado. Foi um golpe de sorte certeiro. Pego de surpresa, o atirador deixou que a arma caísse de suas mãos e em segundos, passou de caçador para caça.

Estava completamente imobilizado, de bruços e a mercê de Steve, que o mantinha preso com os joelhos firmes em suas costas e pressionando seu rosto contra o chão. Ele pode ver os primeiros fios de sangue brotando e começando a escorrer pelo pescoço do rapaz, devido a força com que cravou suas garras na carne dele. Seu coração estava acelerado, suas veias latejavam de excitação ao sentir sua presa tão próxima, dominada e exalando o inconfundível aroma que o medo produz. Steve observou por alguns instantes o desespero do rapaz, que se debatia tentando alcançar a espingarda com uma das mãos. Então com o mesmo requinte de crueldade que ele viu Constancia ser atingida, ele retribuiu ao seu agressor. Sem ter uma noção exata de sua força, Steve largou o pescoço e segurou firme em um tufo de cabelo de sua vitima e mesmo não sendo sua intenção, suas unhas chegaram a perfurar o couro cabeludo do rapaz.

O jovem imobilizado, pensou em gritar, pedir ajuda, mais seu orgulho não permitiu, achou realmente que daria conta do recado. Estava apenas ganhando tempo até alcançar a arma - “Esse cara não sabe com quem esta se metendo” – Repetia para si mesmo. De tanto tatear, realmente ele chegou a tocar com um dos dedos na espingarda, mais no exato momento em que sentiu o frio do aço, foi erguido pelos próprios cabelos e em seguida teve seu rosto lançado violentamente contra o piso. Uma, duas, três vezes. Sua consciência aos poucos foi se esvaindo, mas antes que perdesse completamente os sentidos, sentiu seu corpo sendo virado e enfim pode olhar nos olhos de seu oponente. Sua expressão imediatamente refletiu seu espanto. Ele era enorme, tinha traços caninos e terríveis olhos azuis, claros e frios como o gelo. Pensou estar louco, mais era exatamente isso que estava diante de seus olhos. Um desespero primordial e inexplicável passou a tomar conta de sua mente.

Sem ao menos ter tempo para que pudesse colocar em ordem seus pensamentos, “a criatura” agarrou-o como se fosse feito de papel pelo pescoço e com sua mão esquerda, ergueu-o acima da altura da cabeça com uma força sobrenatural. Assustado e sem forças para reagir, pode apenas observar de forma passiva ele lentamente erguer para trás o braço direito com o punho cerrado, ameaçando desferir o soco que certamente terminaria o confronto. Mas antes de nocauteá-lo, ele olhou em seus olhos de uma forma que congelou sua espinha e vociferou em um tom grave, quase que inumano – "Isso é pela velha" – Apenas o medo que sentiu naquele momento o teria feito perder a consciência, mas para sua infelicidade isso não aconteceu. A última coisa que viu, foi a mão da fera, erguida e fechada de forma firme, vindo em direção de seu rosto estraçalhando seus dentes. Steve esperou pacientemente até que os olhos de seu inimigo se fechassem, para só então lançá-lo como um saco de estrume no chão.

Agora só faltavam três...

Pisando sobre o corpo do atirador completamente inconsciente, ele caminhou em direção ao balcão e usando apenas uma das mãos, pulou para o outro lado. O pequeno ruído de vidro se estilhaçando na sola de seu coturno era só um aviso para os outros, que ele estava chegando para terminar de uma vez por todas aquilo que havia começado...

9.2.07

Prólogo - Parte 05

Once Upon a Time in New Mexico 05/10




Desde os seus quinze anos, quando penhorou o forno de microondas de sua avó para comprar sua primeira guitarra elétrica, Klaus
Øllendorf persegue o sucesso.

Ele soube o que queria ser pelo resto de sua vida após ouvir "The Number of The Beast", interpretada pelo então estreante Bruce Dickinson, enquanto passava em frente a uma loja de discos que ficava a quarteirões de sua casa. Foi paixão a primeira distorção. Na semana seguinte em que se recuperou da surra que levou de seu pai pela penhora, ele se juntou com amigos que como ele curtiam Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath, Judas Priest, entre vários outros ícones do heavy metal e formou sua primeira banda, o Mjolnir. Passaram-se longos oito anos desse dia até hoje, mais ele continua sendo o mesmo jovem rebelde e irresponsável. Apaixonado pelo som pesado, repleto de virtuosos solos de guitarra e letras inspiradas nos velhos contos “asgardianos” contados pelo seu avô durante sua infância.

Tocar fora da Noruega, sua terra natal, era não só para ele, mais como para todos de sua banda, a realização de um sonho. Finalmente estar ali, no berço do rock, dando o primeiro passo “rumo ao sucesso”, era o ápice de suas vidas e isso deveria ser comemorado. E foi, durante os últimos dez dias, todos eles regados a muita vodka, sexo, drogas e é claro, rock in roll. Quando perceberam que todas suas economias haviam desaparecido em pouco menos de duas semanas e só lhes restava o carro, o trailer onde dormiam e seus instrumentos. Klaus e seus amigos trataram de arrumar um lugar para tocar. Foi assim que eles chegaram ao El Rancho.

A casa estava ficando cheia. Eric, Harald e Svein cuidavam do som, enquanto Øllendorf se concentrava em seu ritual particular antes da apresentação. Normalmente além de exercícios específicos para suas cordas vocais ele sempre costumava tomar duas doses de vodka para “aquecê-las”. Hoje não poderia ser diferente, mas como tratava-se de uma noite de "estréia", Klaus tomou três só para garantir.

A medida em que o tempo foi passando, sua ansiedade também aumentava. Para piorar, alguma coisa parecia não estar dando certo com a parte elétrica na instalação dos instrumentos. Seus três amigos iam e vinham pelo salão, que cada vez mais estava ocupado por pessoas que aguardavam pelo inicio do show, com metros e mais metros de fios enrolados nos ombros, discutindo sobre tomadas, voltagens e extensões. Para aliviar a tensão, Klaus tomou algumas “margueritas” – contem duas ou três - e experimentou algumas doses da famosa tequila mexicana da “Mama Constancia”. Seis para ser exato.

“Dádiva dos deuses”, ele dizia - Sempre funcionava. Não demorou para que a mistura fizesse efeito. Logo se sentiu mais leve, solto e desinibido. Desceu do palco, conversou com o publico, riu, flertou e bebeu mais um pouco de cerveja.

“Pouco” é uma mera forma de expressão irônica...

Quando enfim tudo estava pronto e todos da banda demonstravam estar a postos, Klaus despediu-se de suas “novas amigas” e subiu cambaleante no palco. Concentrou-se apenas em ficar de pé por de trás do pano preto improvisado. Seus amigos de imediato perceberam o estado do vocalista e ao verem a multidão já impaciente, entraram numa onda conjunta de desespero. Afinal, eles precisavam muito daquele dinheiro. Svein mais do que depressa, se levantou da bateria e correu até uma das atendentes do bar implorando por um copo de “açúcar com um pouco de água”, torcendo com todas as forças para que a glicose cortasse um pouco o efeito do álcool. Harald foi para traz do pano e não pensou duas vezes quando derrubou sobre ele um balde de água e gelo. A todo momento ele o esbofeteava para que ele não caísse no sono. Eric parecia um corredor olímpico quando foi e voltou ao trailer para pegar outro molho de roupas para trocá-lo. Sem nem mesmo olhar para Klaus e Harald, ele jogou a trouxa de roupa na mão do baixista e imediatamente foi para frente do palco. As luzes se apagaram e o globo de prisma se acendeu. De improviso, começou um solo de guitarra para entreter o público e ganhar um pouco mais de tempo. Alguns minutos depois, Svein e Harald seguiram para seus postos, após se certificarem que o cantor dava sinais de melhora.

Quando o baixo e a bateria entraram na melodia frenética da guitarra, o vapor de gelo seco subiu e enfim chegava a hora da deixa na musica para que Klaus entrasse, todos fecharam os olhos pedindo para tudo o que fosse mais sagrado, para que o vocalista fizesse sua parte. Então com um belo gutural ele levantou a platéia e fez com que seus companheiros enfim respirassem aliviados. O álcool pareceu não afetá-lo de inicio. Tudo saiu perfeito durante a interpretação de “Welcome to the Raganarok”, e nas duas músicas seguintes. Mas na canção numero quatro, “In The Claws of Fenrir”, Klaus deu os primeiros sinais de não estar passando bem. Seus olhos pareciam estar sem foco, seus movimentos começaram a se tornar mais lentos e sua voz na melodia tornou-se descompassada. Eric, experiente e habilidoso, colocou a guitarra em evidencia com mais um solo destruidor e o publico nem sequer percebeu a recaída do vocalista, pelo contrario, urravam e pulavam como nunca no salão. Svein sem perder o ritmo, observava impotente seu companheiro esfregando insistentemente as mãos nos olhos como se quisesse apagar a força alguma imagem gravada em sua retina. Parecia assustado, olhava para tudo a sua volta desordenadamente como se estivesse cercado de perigo.

Definitivamente havia algo de muito errado com ele...

E por mais que todos da banda alimentassem a esperança de que fosse apenas um mal estar passageiro, a tragédia anunciada não demorou para se concretizar. Øllendorf foi subitamente tomado por uma forte sensação de vertigem, seguida de enjôo e dor intensa na região do abdômen. Cambaleou para a beira do palco com uma das mãos na cabeça e a outra se escorando no suporte do microfone, pedindo para que aquela sensação fosse embora logo. Tudo em sua volta parecia estar girando como um carrosel macabro, a dor era intensa. Sem forças para se conter, ele apenas sentiu o liquido quente queimando sua garganta a cima, terminando por regurgitar sobre uma telespectadora próxima a ele. Imediatamente um rapaz que parecia ser o namorado dela, agarrou firme nos seus tornozelos e o puxou, fazendo-o cair violentamente no chão. Com o tripé ainda firme em sua mão, Klaus afundou com toda sua força a base do suporte de metal na cara do seu agressor. O microfone voou e caiu próximo a caixa de som fazendo que uma microfonia aguda e intensa tomasse conta do recinto. Inerte no chão, o rapaz sangrava muito, parecia estar completamente desacordado, enquanto a garota toda suja, gritava a plenos pulmões para que ajudassem o seu namorado. O vocalista ainda zonzo, tentava se levantar, enquanto seus companheiros de banda já prevendo o pior, tratavam de pegar o que podiam entre seus instrumentos e acessórios de valor para sair logo dali. Os amigos do jovem que estavam longe do palco, quando perceberam o que a havia acontecido, correram como uma manada de búfalos em direção a banda. No meio do caminho, esbarraram em um motoqueiro bêbado que não gostou nada do choque, um caminhoneiro também não muito sóbrio tomou as dores. Uma confusão de proporções gigantescas deu-se inicio.


POST POPULARES